Sempre fui uma amante da literatura... Acho que através dos textos podemos viajar, criar, viver outras vidas... A literatura nos faz um efeito revigorante de estar em vários mundos ao mesmo tempo! Desde ontem estou nostálgica... Sobretudo de leituras que se inscreveram em meu espírito tão poético e artístico... Às vezes chego a pensar que não existo, que não passo de uma personagem, talvez de Pirandello, à procura de quem escreva minha história... Mas na dúvida, acabo vivendo como se existisse... E busco na arte minha inspiração...
Enquanto procuro meu autor, na esperança que me faça um final feliz.. Sigo lendo histórias, felizes ou tristes, divertidas ou inquietantes... Histórias que me encantam e me fascinam... A Crônica da Cassa Assassinada é uma delas!
Na Crônica da Casa Assassinada, Lúcio Cardoso acompanha a ruína de uma família mineira, representante de toda estrutura familiar que começa ruir. A história desenrola-se numa fazenda em que a casa desempenha o papel principal: as personagens são feitas como que da estrutura de alvenaria da casa... são presas às suas bases e fundações, a casa, por sua vez, tem suas bases erguidas em carne e osso, é o sangue dos seus habitantes que a mantém e alimenta. A casa possui alma, uma alma sombria, que representa a decadência e a precipitação ao inferno. Ao mesmo passo que é a personagem vibrante do texto, sagrada e profana, divina e demoníaca. A narração assume, muitas vezes, a perspectiva da casa, dos temores que a habitam, da casa que sangra, que sofre, que abriga os mais trágicos segredos.
Lúcio Cardoso revela seu talento para a criação de uma atmosfera sombria, de pesadelo e de sondagem interior, dando à prosa uma rara densidade poética. Tangencia o surrealismo, chegando bem perto dele, mas sem perder o aspecto regional de sua obra. Difícil determiná-lo objetivamente... transita por vários mundos: romântico, simbolista, realista, surrealista... é, enfim, transcendente!
A Crônica da Casa Assassinada cria um clima de morbidez que envolve o ambriente e os seres... Algo entre O Morro dos Ventos Uivantes, Cem Anos de Solidão e os mais primorosos contos de Edgar Allan Poe. A história dos Meneses é construída por fragmentos... Não há referências diretas, mas cartas, diários e confissões de pessoas que conheceram a protagonista - e dela mesma - que estruturam a narrativa. Dessa forma, o texto assume um caráter angustiante, e sofrido, de um amor que se crê pecado. E este pecado torna-se uma representação da plenitude e da própria vida, uma libertação, um mal extremamente necessário.
A tragédia de um indivíduo reflete-se em todos, que percorrem várias gamas de reações que vão da febre amorosa ao ódio, deste à indiferença ou ao julgo da sociedade. Lúcio Cardoso realiza uma forma complexa de romance introspectivo, em que o individual assume proporções coletivas. O atmosférico e o sensorial não mais se justapõem, mas se combinam no plano de uma escritura cerrada, capaz de converter o descritivo em onírico e o psicológico no existencial.
A Crônica da Casa Assassinada surpreende, sobretudo, por seu fôlego, e, também, pelos múltiplos olhares narrativos. Enquanto viaja lentamente por um caminho obscuro, à margem do qual se sucedem desvios psicológicos e conflitos morais, o leitor testemunha a queda da casa dos Menezes.
A agonia de Nina centra-se em um conflito exitencial: sua alma libertária presa a um corpo destruído pelo câncer, traço de um Romantismo latente, em que se é muito mais do que aquilo que a matéria infame nos permite ser. Nina é a vida, ainda que na consciência trágica do pecado e do mal. Tudo para quando ela não está! Num movimento contraditório, porém, ela busca a morte a todo instante. Uma nítida busca da totalidade através dos opostos complementares. Nina representa, assim, ramificação da metástase que condena a casa e contagia seus habitantes. A casa, então, de lar e fazenda produtiva se vê transformada em um cemitério de mortos-vivos.
As flores, violetas, marcam as estações dos personagens, os enganos, a vida na realização do amor no canteiro de um homem jovem, as tantas mortes, a ressurreição possível na imortalidade dos genes e a prisão a que estão condenados os homens resignados. As violetas são simbólicas... Simbolizam a transcendência, a passagem de um estado a outro... Lembrando que sua cor representa a morte, o luto e o segredo.
A Crônica da Casa Assassinada é um texto marcado por fusões: fusão entre o eu e o mundo, entre o eu e o outro, entre espírito e matéria. Toda fusão, porém, gera um aniquilamento... tudo que se funde aniquila parte da existência. A Crônica funde emoções, sensações, sentimentos... aniquila algo e cria algo novo... gera um universo tão ímpar que jamais decifraremos por completo...
"Não era simplesmente o amor que ela desejava, mas a fusão, o aniquilamento. E eu aceitava morrer, fechava os olhos, atirava-me ao desconhecido - nossos corpos se fundiam.
(...)
Eu não existia, era apenas o componente de uma aliança esfacelada e sem sentido. E quem jazia estendida sobre aquelas cobertas, não era ela, era eu, um eu difuso, separado em luta contra a escuridão e terror, mas que ainda assim representava o mais vivo e o mais importante de mim mesmo."
(Lúcio Cardoso)
Este é Lúcio Cardoso! Embora pouco citado, um nome ímpar em nossa literatura! Fica a sugestão, aos amantes de uma boa leitura, de um livro apaixonante.
Beijinhos a todos!
6 comentários:
Oi, Clau!
Que boa dica! Vou anotar para a próxima ida à livraria.
Obrigada pela sua visita e comentário.
Bom finalzinho de domingo para você!
Beijos,
Vanessa
Clau, gosto de romances familiares e vou rpocurar o livro, obrigada pela partilha, bj e boa semana
Olá Clau,
Adorei a dica, parece ser muito interessante, em breve vou ler este livro.
Boa semana!!!
Bjs
olá Clau,
gostei muito do blog e dos posts! Adoro ler e indicações são sempre bem vindas!
Abraços!
Olá Clau.
Amiga já fiz a postagem do seu sorteio no meu blog.
Agora espero que esteja tudo certo e eu possa participar do seu sorteio, até lá, desejo-lhe boas artes e boas leituras.
Beijos
Isa
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