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terça-feira, 1 de setembro de 2009

Um Castelo de Princesa

Após um tempinho afastada por alguns probleminhas, retorno trazendo uma dica bem legal para uma decoração de princesa. Simples, barata e linda.




Para confeccionar seu próprio castelo de princesa, você vai precisar de 3 folhas de EVA rosa, 1 folha de EVA cinza, 2 folhas de EVA verde escovado, 1 folha de EVA marrom escovado, 3 garrafas pet de 600ml, 1 placa de isopor, caixas de papelão, cola quente, retalho de tecido cortado em forma de bandeirola; 3 palitos de churrasquinho, musgos, sementes e sua própria criatividade. Com esse material, você pode seguir o seguinte passo-a-passo:
1- com a caixa de papelão, faça o molde do castelo, cortando-o em forma de trapézio. Faça as paredes, também com o papelão e cole no centro da placa de isopor;
2 - faça o revestimento do papelão com o EVA rosa, de modo que sobre uma pequena aba em cima, para fazer a parte superior do castelo;
3 - cubra as garrafas com o EVA rosa, com o EVA cinza faça pequenos cones que servirão de telhado para as torres. Coloque os palitos de churrasquinho no alto das torres de garrafa pet e cole as bandeirolas de tecido. Cole as torres no castelo, uma na parte superior e duas, uma em cada lado da parte frontal;
4 - com o EVA cinza, faça a porta e as janelas, além de alguns detalhes do castelo. Faça o caminho de entrada com o EVA cinza, fazendo-lhe pequenos riscos com estilete para simular ladrilhos;
5 - com o EVA nas cores verde e marrom revista o restante do isopor, criando o gramado e pequenas estradas de terra;
6 - com o castelo e terreno prontos chegou o momento do acabamento. Com musgos e sementes você pode construir o jardim. As sementes podem ser usadas como pedras, fazendo o acabamento nas emendas dos cortes de EVA;
7 - use sua criatividade para criar seu jardim e decorar seu castelo.
Uma dica: use sementes de guapuruvu, elas fazem um ótimo efeito em seu trabalho. Para aqueles que não conhecem a semente do guapuruvu, aí está:




Se quiserem dar uma conferida, nova postagem sobre como fazer seu próprio Castelo de Princesa basta olhar aqui ou aqui.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O terror do Little Boy


Little Boy... Como um garotinho pode destruir tantos sonhos e esperanças? Perguntem a Hiroshima! Aproximadamente 70 000 vidas exterminadas diretamente (alguns tendo, inclusive, seus corpos desintegrados), além inúmeros feridos e tantos outros atingidos pela radiação. Ainda hoje, 64 anos depois, é difícil precisar o número real de vítimas, mas estima-se uma contagem próxima aos 250 000 mortos. Os prédios desapareceram quase que instantaneamentes, num raio de 2 quilômetros. A cidade tornou-se um campo de destruição. Após o ataque covarde, por muito tempo ainda, Hiroshima estaria condenada a conviver com os males da radiação. Hoje, 6 de agosto, 64 anos depos, fica como tema de reflexão esse exemplo da cruel desumanidade do ser humano. Aprendamos com nossa história, para que ela não se repita.

A rosa de Hiroxima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
(Vinícius de Moraes)

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Ação Civil contra a governadora Yeda Crusius

No dia de hoje, o Ministério Público Federal nos deu amostra de que ainda resta-nos a esperança por uma política digna, justa e humanitária. Após as inúmeras denúncias e escândalos envolvendo a governadora Yeda Crusius, enfim a ação por improbidade administrativa e a determinação de afastamento imediato do cargo. Vejamos o que diz a Zero Hora online de hoje, 05 de agosto:

Entenda a ação civil ajuizada contra a governadora Yeda Crusius e políticos gaúchos
Ação civil de improbidade administrativa corre na na 3ª Vara da Justiça Federal de Santa Maria.
A ação de improbidade administrativa que foi ajuizada nesta quarta-feira na 3ª Vara da Justiça Federal de Santa Maria inclui nove nomes como réus. Segundo o procurador Enrico Rodrigues de Freitas, após quase um ano de trabalho e reanálise dos elementos que foram coletados na Operação Rodin, o Ministério Público Federal (MPF) sente-se com uma posição "segura e serena" para ajuizar a ação — algumas delas com foro privilegiado na esfera criminal.
Os envolvidos na ação são: a governadora Yeda Crusius, o professor Carlos Crusius, os deputados José Otávio Germano, Luiz Fernando Záchia, Frederico Antunes, o ex-secretário Delson Martini, a assessora da governadora Walna Vilarins Meneses, o diretor do Banrisul Rubens Bordini e o presidente do Tribunal de Contas do Estado, João Luiz Vargas.
Apesar de os procuradores da República não divulgarem as provas que fazem de nove nomes públicos réus, é possível prever os próximos passos do processo ajuizado nesta quarta-feira na 3ª Vara da Justiça Federal de Santa Maria.
O MPF requereu o levantamento do sigilo das provas que embasaram a ação. Os procuradores se limitaram a dizer que os nomes citados são beneficiários, operadores ou intermediários de irregularidades. A Justiça Federal deve se manifestar sobre o pedido nos próximos dias.
— Não haverá moleza para estes réus — afirmou o promotor Adriano dos Santos Raldi.
Conforme a procuradora Jerusa Burmann Viecili, a juíza federal Simone Barbisan Fortes "terá de analisar e notificar os réus para que apresentem sua resposta à Justiça". Na hipótese de acatar a denúncia do MPF, Simone notificará as nove pessoas para que possam apresentar defesa — o que terá de ser feito em até 15 dias.
A ação pode resultar na perda dos direitos políticos dos reús envolvidos, informaram os procuradores que apresentaram a ação neste tarde em entrevista coletiva. Além disso, a peça prevê que eles, caso condenados, devolvam aos cofres públicos os valores tomados de forma irregular. Ao contrário de uma ação criminal, a ação não prevê a prisão dos acusados.
Caso o pedido dos procuradores seja acatado pela Justiça Federal, os reús políticos também deverão deixar os cargos até o fim do processo e fica vetada a contratação dos reús por parte do poder público.
(Zero Hora, 05/08/09.)

Embora nossa democracia não tenha ainda deixado seus dentes de leite, temos que lutar por sua maturidade. Um povo que tantas vezes teve seus direito democrático violados deve lutar pela consolidação da democracia, pela seriedade da justiça e pela solidez do poder público. Apenas com isso construíremos uma verdadeira nação.
Por hora, nós, humilhados e ultrajados "torturadores de crianças", temos nossa alma lavada. Não sabemos ainda o resultado de tal ação. Mas saibamos viver as delícias do momento, pois o amanhã a Deus pertence e como será não passa de mera possibilidade...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A gripe H1N1 e as atividades escolares

Por essa altura do ano, é normal que nossa preocupação seja com atividades referentes ao dia dos pais, o fim das férias de inverno e o retorno às aulas. Este ano, porém, as coisas não estão sendo bem assim. Devido à nova gripe, H1N1, instaurou-se um inquietante clima de temor e incerteza frente às questões mais simples do cotidiano. Não se pode fechar os olhos diante da realidade e brincar de faz de conta. Por orientação da OMS, a grande maioria das escolas está de portas fechadas, preservando alunos e funcionários diante da pandemia, procurando evitar uma maior proliferação viral. Infelizmente, nem todos pensam assim. Mesmo diante dos casos que se somam dia-a-dia, algumas prefeituras do Estado do Rio Grande do Sul - uma das regiões mais atingidas pela gripe A - afirmam não haver razão para alarme, determinando a manutenção do calendário escolar. Necligência ou demagogia? Viamão e Canoas, municípios da região metropolitana, enfrentam esse problema. Defendendo que o alarme não se justifica, posto que ainda não houve casos confirmados nesses municípios. Viamão, porém, contabilizou sua primeira vítima na noite de ontem. O que não pareceu abalar muito o poder público.
As escolas devem respeitar as orientações de suas mantenedoras - no caso de escolas municipais, suas prefeituras -, mas temos que refletir até que certo ponto essas orientações condizem com as necessidades da escola e sua comunidade. De um lado, argumenta-se que o aluno é muito importante e por isso tem direiro a ter aulas; de outro, argumenta-se que por eles serem realmente importantes, têm o direito a cuidados e atenção e, sobretudo, a prevenção de sua saúde. A polêmica ainda vai longe... Nessas horas, se pode recordar do dito popular: manda quem pode, obedece quem tem juízo. Mas, tudo bem, nem sempre temos muito juízo mesmo.
Enfim, àqueles que têm juízo ou aos de regiões menos afetadas pela pandemia, fica mais uma sugestão para a semana dos pais:

certificado melhor pai do mundo

Na semana dos pais, atividades para os filhos (2)

Falar do dia dos pais é falar da família, é trazer ao debate em sala de aula as questões familiares que fazem parte da vida de todos nós.
Todos amamos nossos pais, independente de que língua usamos para expressar esse sentimento. Em geral, as atividades escolares sobre as datas comemorativas são trabalhadas nas disciplinas de artes ou língua portuguesa, quando não trabalhadas apenas pelo currículo. Pensando em uma forma de ampliar esse trabalho, trago algumas sugestões para atividades em língua inglesa. São exercícios simples que podem ser utilizados tanto nas séries iniciais, quanto nos sextos e sétimos anos. Muitas vezes esquecemos o aspecto lúdico e imagético nos trabalhos a partir do sexto ano do ensino funcamental. Colocamos a racionalidade dos conteúdos do ensino por área sobre a interação, a imaginação, a criatividade nas atividades. Há a necessidade de se resgatar o lúdico em sala de aula, ensinando e divertindo paralelamente. Temos que desenvolver um conhecimento a ser experimentado, saboreado e apreciado. Não façamos com que nossas crianças cresçam cedo demais, deixemos que sejam crianças, independente de sua idade.
Vejamos essas atividades:













Essas imagens foram extraídas da coleção English for kids, de Maria Radespiel e Érika Radespiel, publicada pela editora IEMAR. A obra fica aí como uma ótima ideia para o pessoal que trabalha com a língua inglesa nas séries iniciais, além de lindos, os livros apresentam conteúdo bastante adequando à realidade que encontramos em nossas salas de aula (inclusive em níveis mais avançados que as séries iniciais).

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Na semana dos pais, atividades para os filhos (1)


Além de refletirmos com os alunos acerca da importância e do significado do Dia dos Pais, podemos levar-lhe poemas e músicas, que podem ser apreciados e debatidos, mesclando a atividade de homenagem aos pais a atividades de debate e interpretações textuais. Nessa perspectiva, sugerimos duas diferentes conções que poderão ser utilizadas de acordo com a maturidade e nível de desenvolvimento das crianças, são elas:

Papai amo você
(Balão Mágico)
F.don Diego / A.araujo / Edgard Poças

Um passarinho me acordou cedinho
Cantando lindo que nem rouxinol
E o céu sorrindo azul, azul, limpinho
Abriu caminho pra passar o sol

Um dia lindo com todas as cores
Um arco-íris garantiu que sai
E o bem-te-vi disse que viu as flores
Vindo enfeitar o dia do papai

Amigo velho eu queria falar
Meu velho amigo foi tão bom te encontrar.
Amigo velho eu te amo demais
Meu velho amigo todo dia é dos pais

Eu convidei o gato e o cachorro
Nem um amigo vai poder faltar

Super-heroi, também Tarzan e o Zorro
E o pererê não vai poder mancar

Vai ter pelada e muita brincadeira
Toda alegria vem nos visitar
Queria tanto que esta festa inteira
Fosse um presente pra poder te dar.

Amigo velho eu queria falar
Meu velho amigo foi tão bom te encontrar.

Amigo velho eu te amo demais
Meu velho amigo todo dia é dos pais


e


Pai
(Fábio jr.)

Pai
Pode ser que daqui a algum tempo
Haja tempo pra gente ser mais
Muito mais que dois grandes amigos
Pai e filho talvez

Pai
Pode ser que daí, você sinta
Qualquer coisa entre esses 20 ou 30
Longos anos em busca de paz

Pai
Pode crer eu Tõ bem eu vou indo
Tô tentando, vivendo pedindo
Com loucura pra você
Renascer

Pai
Eu não faço questão de ser tudo
Só não quero e não vou ficar mudo
Pra falar de amor pra você

Pai
Senta aqui que o jantar tá na mesa
Fala um pouco, tua voz tá tão presa
Nos ensina esse jogo da vida
Onde a vida só paga pra ver

Pai
Me perdoa essa insegurança
É que eu não sou mais aquela criança
Que um dia morrendo de medo
Nos seus braços você fez segredo
Nos seus passos você foi mais eu, eu

Pai
Eu cresci e não houve outro jeito
Quero só recostar no seu peito
Pra pedir pra você ir lá em casa
E brincar de vovô com meu filho
No tapete da sala de estar

Pai, pai
Você foi meu herói, meu bandido
Hoje é mais, muito mais que um amigo
Nem você nem ninguém está sozinho
Você faz parte deste caminho
Que hoje eu sigo em paz

Pai, paz.

Não podemos esquecer ainda, que nossos alunos apreciam bastante atividades práticas e manuais. A confecção de cartões, além de bastante simples, é sempre solicitada pelas crianças, que sentem prazer em ofertar aos outros "presentinhos feitos com suas próprias mão". Por hoje, então, fiquemos com algumas imagens que podem ser usadas para ilustrar os bilhetinhos aos papais e moldes para cartões:



























domingo, 2 de agosto de 2009

Semana dos Pais




Estamos a uma semana do Dia dos Pais. Trata-se de uma data bastante importante, pois é o momento de reconhecermos a importância da figura paterna na construção do que somos e do que seremos. Muito de nós é resultado de nossa relação com nosso pai.
O artigo 1.634, do nosso Código Civil, determina aos pais a garantia da criação e educação de seus filhos. Isto refere-se tanto a questões materiais, quanto a questões morais, o que requer comprometimento, amor, renúncia e vocação. Lembrando as palavras de Augusto Cury:

Bons pais dão presentes, pais brilhantes dão seu próprio ser
Bons pais nutrem o corpo, pais brilhantes nutrem a personalidade
Bons pais corrigem erros, pais brilhantes ensinam a pensar
Bans pais preparam os filhos para os aplausos, apis brilhantes preparam os filhos para os fracassos
Bons pais conversam, pais brilhantes dialogam como amigos
Bons pais dão informações, pais brilhantes contam histórias
Bons pais dão oportunidades, pais brilhantes nunca desistem.

Por tudo isso que o Dia dos Pais merece ser comemorado. Não como uma data comercial, consumista, mas como um reconhecimento a tudo que eles fazem por nossa formação, pela construção de nossa caráter e pelos insolúveis laços afetivos.
Essa comemoração tem sua origem, há mais de 4 mil anos, na antiga Babilônia, quando um jovem chamado Elmesu moldou um cartão em argila, em que desejava sorte, saúde e longa vida a seu pai. Como o dia das mães, a ideia de se comemorar o dia dos pais surge da necessidade de se criar uma data para se fortalecer laços familiares, de se homenagear e reconhecer a importância que essas pessoas têm em nossas vidas.
No Brasil, o primeiro dia dos pais foi comemorado em 1953, num dia 14 de agosto, dia de São Joaquim, patriarca da família. A ideia partiu do publicitário Sylvio Bherind. A data foi alterada para o segundo domingo de agosto por questões comerciais. Assim, passou a ser comemorada em dia diferente a de outros países.
Os dias que antecedem o dia dos pais, são de intensa atividade escolar, pois muito do trabalho acaba por voltar-se a esse tema. Várias atividades, trabalhos, cartazes, apresentações... são sempre realizadas para recordar essa data. Falta, contudo, muitas vezes trabalhar o lado humano da data, recordar com as crianças sua origem, discutir a necessidade de existir esse dia... Os laços familiares estão cada vez mais frouxos, pois a própria família vem em um processo de evolução, lado a lado com a nossa sociedade. Cabe fazermos uma retomada dos valores e das relações humanas. Assim, o Dia dos Pais deve ser um dia de homenagem, de lembrança, de presentearmos nossos pais, mas, sobretudo, deve ser um dia de reflexão sobre sua importância, sobre o papel do pai e sobre os laços afetivos que une a todos nós.

sábado, 1 de agosto de 2009

O Poeta Menino


O poeta menino que viveu pela poesia, Mário Quintana deu asas aos versos. Esse grande nome da Literatura Brasileira foi um autor que pode ser lido por todas as idades, da inocência e fantasia das crianças à nostalgia e seriedade dos adultos. Assim, apresento aqui um projeto que se pode desenvolver nas mais diferendes séries, tanto do ensino fundamental quanto do médio, dependendo apenas do encaminhamento dado pelo professor orientador.

JUSTIFICATIVA:
Nossas crianças necessitam, desde cedo entrar em contato com o que de melhor podemos lhe oferecer. Independente do rumo que suas vidas venham a tomar, nossa obrigação enquanto educadores é mostrar-lhes possibilidades. Assim, levar ao cotidiano escolar autores de grande vulto literário é uma forma de abrir as portas para um mundo de encantos e fantasia. No caso de Mário Quintana, especificamente, temos um autor que fala a todas as idades, que, em especial àqueles do Rio Grande do Sul ou que tenham a possibilidade de visitar o estado, se faz bastante próximo com visitação à Casa de Cultura Mário Quintana.

OBJETIVO GERAL:
Propiciar aos educantos uma vivência com a literatura através do contato com as poesias de Mário Quintana.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
* Promover o contato com a literatura;
* Desenvolver o gosto pela arte poética;
* Envolver os alunos em uma vivência poética;
* Estimular a apreciação estética;
* Trabalhar o potencial interpretativo;
* Desenvolver a criticidade.

ATIVIDADES:
* Pesquisa sobre a vida e a obra do autor;
* Leitura e debates sobre textos poéticos de Mário Quintana;
* Apresentações realizadas pelos alunos, ao seu gosto, sob orientação do professor;
* Visitação à Casa de Cultura Mário Quintana. Entre várias outras atividades que podem ser construídas especeficamente a partir dos textos selecionados e baseadas na série escolhida.

Vejamos a seguir alguns textos que podem ser trabalhados e debatidos sobre o assunto:

Que melhor forma de iniciar o projeto que não pelo conhecimento do autor? Quem melhor para nos falar sobre ele que ele próprio?



Com a palavra, Mário QUintana:
Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.
Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu... Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo - que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras.



Quintana foi um poeta da simplicidade. Cantou coisas simples e cotidianas. Poeta que encanta e que emociona... Poeta da infância e da rua encantada...

O Mapa
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...

(E nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Ha tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Ha tanta moca bonita
Nas ruas que não andei
(E ha uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...


quinta-feira, 30 de julho de 2009

O Mar na Vastidão dos Símbolos



Não restam dúvidas de que Os Lusíadas, de Camões, e Mensagem, de Fernando Pessoa, sejam obras que se aproximam. Fortemente marcados pelo nacionalismo, é possível perceber nesses textos o caráter épico na exaltação dos feitos de um herói nacional. Entre eles, porém, há uma grande diferença: enquanto Os Lusíadas é nitidamente uma epopéia – mesmo que já não mais nos padrões clássicos –, Mensagem é um poema épico, não chegando a constituir-se como epopéia. Como poema épico, Mensagem exalta uma nação por suas conquistas, contudo, rompe com a epopéia a partir do momento que volta o olhar para o futuro. O poema pessoano, então, “narra” os fatos de um passado glorioso, trazendo já uma realidade decadente, e, sobretudo, a esperança de que Portugal volte a ser a nação gloriosa de outros tempos.
Mensagem traz em si um forte conteúdo simbólico que perpassa a obra. Os Lusíadas, por sua vez, relata os fatos sem se utilizar tanto deste artifício. Um dos símbolos mais recorrentes na poesia épica de Fernando Pessoa é, na verdade, o grande ícone de Portugal: Dom Sebastião - o próprio “encoberto”. Os Lusíadas apresenta episódios simbólicos, mas sem se utilizar tanto de símbolos especificamente. Um elemento, porém, aparece nos dois textos: o mar. O mar surge de diferentes modos na realidade dos dois textos. Em Camões, ao que parece, o mar é, em geral, apenas um espaço geográfico, próprio para a navegação; no poema pessoano, por outro lado, o mar revela-se com toda a simbologia que carrega. Assim, o mar traz consigo a vastidão dos símbolos que farão dele um elemento mais significativo do que pode parecer a primeira vista.
O mar simboliza a dinâmica da vida. O próprio mar é dinâmico, mantém-se num constante movimento. Dinâmico, o mar é também mutável, dúbio, funde a esperança de glória e o medo da frustração.

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

O mar carrega em si essa dualidade de significação: é o perigo, o abismo, mas espelha céu. Ao espelhar o céu, o mar toma para si o conjunto de sua simbologia. O mar, então, torna-se ambíguo, ao mesmo tempo que representa o perigo, representa a glória, a imortalidade, a eternidade, a plenitude, a busca do absoluto. O céu representa os poderes superiores ao homem, sendo, com isso, o fator determinante de seu destino.
Tanto em Mensagem quanto em Os Lusíadas, o mar é o portador do destino dos portugueses. A frustração ou a glória encontram-se nele, suas profundezas escondem algo que os portugueses são obrigados a desvendar. O mar torna-se o depositário dos medos e angústias, entretanto, a bravura portuguesa foi capaz de vencê-lo, dominá-lo. O mar, então, torna-se a representação de uma conquista merecida, de uma esperança que passa a ser realidade. O mar representa a transformação, no caso, de um temor que se torna glória. O mar é, portanto, um espaço de transcendência.

Águas em movimento, o mar simboliza um estado transitório entre as possibilidades ainda informes as realidades configuradas, uma situação de ambivalência, que é a de incerteza, de dúvida, de indecisão e que pode se concluir bem ou mal. Vem daí que o mar é ao mesmo tempo a imagem da vida e a imagem da morte. (CHEVALIER & GHEERBRANT)

Sendo a representação do bem e do mal, da vida e da morte, o mar pode significar a realização dos sonhos ou possuir monstros prestes a perseguir e atormentar. O mar é a maior das forças da natureza. Ao enfrentá-lo, o homem desafia a morte. Suas águas fluidas e informes representam a transição que vai do enfrentamento ao triunfo.
Em Os Lusíadas, o mar apresenta um forte aliado: Adamastor. Em seu formato bruto, o rochedo é fixo, bem determinado, porém, passível de derrota, por mais poderoso que seja. Os portugueses conseguem efetivar essa vitória sobre o tão temido Gigante – que nada mais é que a representação do Cabo das Tormentas. Entretanto, simbolicamente, Adamastor representa o limite a ser ultrapassado, a força da natureza que se ergue contra o homem, e contra a qual ele deve lutar. Para ser o “senhor dos mares”, o herói dos lusitanos deve vencer também ao Gigante. Auxiliado pelos deuses, Gama efetiva sua vitória.
Mensagem, por sua vez, apesar de reiterar constantemente o poder dos mares, também apresenta um monstro a ser derrotado: o Mostrengo. Novamente é possível perceber a aproximação entre Os Lusíadas e Mensagem. Em ambos os limites e o inimigo estão presentes fazendo com que o homem se supere a todo instante. O Mostrengo de Pessoa, contudo, parece ser mais terrível que o Gigante Adamastor. O Monstro representa, também, o limite e as forças naturais, entretanto, possui uma forma indefinida. O homem não sabe com quem luta, seu adversário é um ser alado, surgido em meio a uma escuridão, parecendo ter vindo de lugar nenhum.

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse, “Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tetos negros do fim do mundo?”

O Mostrengo pode representar ainda as crendices de uma época em que o Cabo das Tormentas era visto como um dos limites do mundo. O temor que esse monstro causa nos navegantes só é superado pela convicção do bem que se está fazendo pelo povo que precisa dessa conquista.
A noite torna-se mais um dos elementos negativos da viagem. É no espaço noturno que os monstros aparecem e os perigos se desvelam. A noite é ambígua e traz em si algumas dualidades da existência, representa o sono tranquilo e a morte, os sonhos sublimes e as angústias, a ternura e o engano. A noite, então, surge como um véu sombrio que se apodera do céu dos mares por onde navegam os portugueses. Os heróis de Portugal devem vencer a noite, aguardando a chegada da manhã que trará consigo a aurora, a realização dos sonhos noturnos.
Desse modo, o mar, o céu, o monstro e a noite são símbolos que se aproximam. O mar torna-se o epicentro dessa simbologia. Frustração e glória estão presentes no espaço marítimo e precisam ser desvelados. A qual deles se chegará? Não se sabe, é preciso desafiar a ele, o mar, e, por si só, alcançar a tão desejada resposta.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

O ensino de Arte na educação nacional


A arte, na educação escolar, é na verdade, uma área bastante nova. Apenas a partir de 1971, com a lei nº 5692, passou a haver uma regulamentação do seu estudo. Contudo, era ainda tratada como atividade, sendo elevada ao status de área de conhecimento apenas a partir da nova LDB, de 1996.

Pouco tempo temos ainda de educação artitisca na escola. Esta área vem evoluindo com o passar dos anos, mas há ainda muito o que evoluir, deve-se transformar a mentalidade de educadores que devem se especializar.
Tomando como base o trabalho de Bernadete Zagonel, vemos que os PCNs propõem que sejam trabalhadas quatro linguagens artísticas dentro do ensino de arte: as artes visuais, a dança, a música e o teatro. A escola não necessita, simultaneamente, trabalhar todas as linguagens. É, contudo, bom que, ao longo do processo educativo, os alunos entrem em contato com o maior número possível de linguagens artísticas.
A regulamentação do ensino da arte e suas linguagens através de leis faz com que o ensino da arte passasse a ser levado mais a sério. Embora ainda existam professores sem formação específica na área, cada vez mais essa realidade está sendo modificada. Professores mais bem qualificados e especializados na área são um meio de revolucionar o ensino da arte, que antes primava pela cópia e reprodução e agora, busca a produção, a fruição e a reflexão.

Por meio do estudo de arte é possível compreender a história humana e estabelecer relações de fato e de situações. Esse prisma revela que “A arte, na escola,é a oportunidade do aluno explorar, construir e aumentar seu conhecimento, desenvolver suas habilidades, articular e realizar trabalhos estéticos e explorar seus sentimentos. O ensino da arte propicia meios de apreciação estética e de valorização cultural. (ZAGONEL)

Nessa perspectiva, observa-se que o ensino da arte deve priorizar a produção e a criação. O fazer deve ser desejado enquanto o copiar combatido, pois este limita a mente do aluno, e aquele, a liberta e conduz à evolução. Assim,

é preciso que o aluno desenvolva o sentido de análise, podendo entender as suas próprias criações e as de seus colegas, pois assim ele estará igualmente sendo preparado para fazer a análise de outras obras (procedimento fundamental para a compreensão da arte) e para realizar as suas escolhas. (ZAGONEL)

Como toda área de conhecimento, o ensino da arte deve trabalhar com o desenvolvimento humano, com a evolução social, num processo formativo cuja prioridade é o aluno e suas múltiplas habilidades.
Nesse sentido,o estudo da arte deve ter como personagem central o aluno. Ele é a figura na mais importante posição do processo educativo. O prazer no aprender, em produzir arte,

em criar, em improvisar, em ouvir, em ver e apreciar as diferentes formas artísticas. Ele deve se expressar por meio do fazer artístico, ao mesmo tempo em que adquire conhecimento e desenvolve suas habilidades. (ZAGONEL)

O prazer e fruição frente a arte possibilitam um aprendizado mais efetivo. Desse modo, é imprescindível ao desenvolvimento de suas competências e habilidades, que levemos em consideração seus saberes, desejos e perspectivas diante do estudo de artes. Assim, pode-se modificar os rumos da aula de acordo com idéias e sugestões dos alunos (cuidando sempre para não torná-la superficial). Ao aluno deve-se propiciar o ambiente criativo e produtivo, proporcionando, também, o trabalho autônomo.

Bastante adequado para atingirmos essa meta é o ensino feito a partir de projetos, em que os próprios alunos escolhem os temas com as quais irão trabalhar e o grupo todo se envolve na sua execução. (ZAGONEL)

A partir desse trabalho interativo, inventivo e imaginativo, o aluno poderá desenvolver melhor seu senso crítico e analítico, habilidades adquiridas somente com a prática. Deve-e desenvolver no aluno as habilidades de olhar, ouvir, ler e interpretar as artes e o mundo.
Ampliar o olhar para todas as formas de arte, com uma crítica baseada em critérios estipulados, muitas vezes, pelos próprios alunos, pode levá-los não só a ver e entender as obras de arte, mas também o mundo, com mais retidão e tolerância .
Não basta transmitirmos aos alunos uma série de conhecimentos os quais serão identificados, mas não apreendidos por eles. O educador deve trabalhar de forma a desenvolver o conhecimento, fazer com que o aluno dialogue com ele, tenha prazer na aprendizagem e seja um apreciador da arte.
Contudo, que arte deve ser trabalhada? Apesar de a própria produção do aluno ter papel fundamental na aula de educação artística, ele tem o direito de ter acesso a todas as formas e expressões artísticas. Não se pode porém, se centrar em conceitos e elementos de tempos passados dando a eles a possibilidade de conhecer as produções contemporâneas.
Conforme Zagonel,

esse é um ponto importante a ser observado pelo professor, para não edificar sua ação pedagógica somente em cima de conceitos e elementos pertencentes a épocas passadas. A arte no século XX expandiu suas formas de expressão, seu vocabulário, pontos que necessitam ser introduzidos nos programas atuais, diminuindo assim a defasagem entre o que se faz e o que se ensina.

A importância do ensino da arte se concentra em pontos fundamentais: o potencial criativo, libertador e comunicativo, a criação deve permear todo o ensino da arte. O aluno deve ter livre expressão artística e essa liberdade dá ao estudo da arte um caráter libertário. Nesse sentido, a arte assume um papel transformador pois através da liberdade e da criação se pode deixar a imaginação aflorar, expressando aspectos sensoriais e racionais do ser humano.
Segundo Zagonel,

no ensino das Artes Plásticas, é comum ver o aluno ser levado a copiar quadros de pintores famosos, a colorir desenhos ou aprender desenho geométrico, quando ele poderia expressar criativamente suas idéias e transformar a imaginação em meio expressivo.

A arte é uma forma de comunicação e interação humana, através dela o homem, desde os tempos mais remotos, pode desenvolver-se como humano. Dessa forma, tem-se que se observar que a arte não surgiu do nada, rumo ao nada, ele é fruto de uma lenta evolução humana, de sua consciência e de seus atos, surgiu de uma necessidade e sobrevive dessas necessidades. A arte caminha constantemente em direção a satisfazer certas necessidades práticas, sensíveis e oníricas do homem. A arte é, portanto, prática e lúdica, apresenta por isso tanta importância quanto toda e qualquer área do conhecimento.

A arte tem uma função tão importante quanto a dos outros conhecimentos no processo de ensino e aprendizagem e está relacionada com as demais disciplinas. A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana. (ENGELMANN)

A importância do estudo da arte se concentra em seu caráter crítico, libertador e comunicativo. Seu estudo é, portanto, fundamental para o desenvolvimento humano, posto que apartir dele pode-se desenvolver a autonomia do aluno, suas habilidades e seu imenso potencial para transformação de sua visão de mundo e, conseqüentemente, da própria realidade social em que vivem.
O homem é capaz de conferir significados às coisas através de seu caráter comunicativo; através do aspecto crítico, é capaz de pensar e reconstruir o mundo; através do caráter libertador é que se pode questionar, refletir e agir sobre o conhecimento. Nisso se concentra a importância do estudo da arte: em comunicar, criticar e libertar através do constante ato de educar através da sensibilidade artística e da autonomia.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Nossa história, nossa identidade...

Muitas pessoas ignorantes de sua história, de seu passado e de sua cultura podem acreditar que quem se orgulha de seus feitos e conquistas está obsoleto. Contudo, quem esquece sua história esquece a própria identidade. Quem perde sua história, não é ninguém, pois esquece parte de si mesmo. Quem não tem passado não existiu. Apenas vidas vazias não tiveram história, pois não tiveram objetivos, desejos ou angústia.
Quem age mal repudia e esquece o passado, quem age bem o reconstrói mentalmente para construir seu presente a partir dele.
Vivemos no presente, mas nossos méritos estão no passado, é nele que estão nossas conquistas, nossa evolução, nosso caminho, posto que o presente é efêmero, a tal ponto que enquanto pensamos sobre ele, ele já entrou na fila de nossas memórias passadas. No presente, portanto, não temos nada, pois o estamos escrevendo e enquanto escrevemos uma palavra, a imediantamente anterior já está no passado.
O futuro, mais ainda que o presente, não existe. Nunca existiu e jamais existirá. Nunca chegaremos nele.
Assim, quem vive, vive do passado.
O passado é o tempo do herói, da epopéia. O tempo nobre! Da grandiosidade! É o tempo em que a possibilidade de mudanças se expõe. Mudança essa que só é possível pelas mãos do herói, é ele que faz com que o destino se cumpra.

O ciclo cosmogônico deve prosseguir (...), não pela ação dos deuses, que se tornam visíveis, mas pela dos heróis, de caráter mais ou menos humano, por meio dos quais é cumprido o destino do mundo. (Joseph Campbell)

Infelizmente, esse ciclo cosmogônico se dá em altos e baixos. O universo não é estável. E é a instabilidade que nos proporciona a emoção. Mas que em nossos altos e baixos, com nossos deuses e heróis, relembremos sempre a nossa história e, consequentemente, nosso lugar e nossa missão no mundo.
Então, lembremos nossa história e não esqueçamos de uma de nossas grandes conquistas, tais como o primeiro título da Taça Libertadores da América, vencendo o Peñarol, por 2x1, em Porto Alegre, em 1983, há 26 anos. Nossa história e nossa glória. Que nos chamem de saudosistas. Mas temos passado e identidade. Com o Grêmio onde o Grêmio estiver. E que nos perdoem pela cor do nosso sangue, mas que não se esqueçam que o céu, símbolo da eternidade e do infinito, é azul...


segunda-feira, 27 de julho de 2009

Socialização e autonomia na construção do conhecimento


Trabalhar em grupo é uma forma simples de estimular a socialização e a solidariedade entre as crianças. Além disso, é uma forma de desenvolver o sentido de autonomia, através do qual todos se ajudam mutuamente promovendo o crescimento de todo o grupo.
O processo de formação dos grupos deve ter início com uma atividade de conscientização sobre o que é o trabalho em grupo, a atividade coletiva. Desse modo, temos que refletir sobre o que é um grupo.
Pode-se falar em grupo, quando um conjunto de pessoas movidas por necessidades semelhantes se reúne em torno de uma tarefa específica. No desenvolver as tarefas, deixam de ser um amontoado de indivíduos, para cada um assumir-se enquanto participante de um grupo com um objetivo mútuo. Isto significa também que cada participante exercitou sua fala, sua opinião, seu silêncio, defendendo seus pontos de vista. Portanto, descobrindo que, mesmo tendo um objetivo mútuo, cada participante é diferente. Tem sua identidade. Neste exercício de diferenciação – construindo sua identidade – cada indivíduo vai compartilhando com o outro.
Todo grupo tem uma liderança, seja ela consciente ou inconscientemente exercitada. O segundo passo, então, é trabalhar a noção de liderança.
“Liderança é a Arte de Motivar e Influenciar Pessoas”.
O líder tem o poder de levar as pessoas a lugares que elas jamais iriam sozinhas e isso pode ser bom ou ruim, por isso temos líderes positivos e negativos. Devemos, contudo, batalhar por uma liderança positiva, que faz com que cada membro do grupo tenha motivação para crescer e progredir. Cabe ao líder a responsabilidade de planejar e tirar o maior proveito das habilidades de cada membro de seu grupo, para isso é importante utilizar a sua influência, para o bem da equipe e por consequência o bem da turma. Uma grande qualidade de um líder eficaz é saber conquistar o respeito da equipe através da influência não pela sua posição e sim pela sensibilidade do que é direito e justo. O estilo de liderança segundo o qual todos são tratados de forma justa e igual sempre cria uma sensação de segurança. Isso é extremamente construtivo no ambiente de trabalho.
O terceiro momento é a formação do grupo, que pode se dar de várias formas. Dentre os inúmeros meios de construção de grupo, destacamos os grupos áulicos. Para melhor reflexão sobre o método, transcrevemos a seguir o texto "Grupos Áulicos - Técnica favorece o desenvolvimento dos valores de cidadania", de Rita Abbati, Suzana Villas-Bóas e Armando Villas-Bóas Cabral (texto extraído de Revista do Professor. Porto Alegre: Editora CPOEC, out./dez., 1999. v. 15, n. 60.):


Uma forma interessante de organizar o trabalho em sala de aula é a distribuição dos alunos em grupos áulicos, procedimento pedagógico que favorece a vivência de valores de cidadania, criado pelo professor Caon, em 1965 [...]. A expressão áulico, no caso desse procedimento, é relativo à aula, em acepção diferente comumente encontrada (palaciana).
Quando trabalhamos com grupos áulicos, procuramos permitir aos alunos o convívio com as diferenças, a aprendizagem sobre a importância de auxiliar e ser auxiliado, de pertencer a um grupo. A sustentação da aprendizagem de cada membro do grupo tem garantia nessa prática, através da cumplicidade que se instala.
Modificar a configuração na sala de aula, onde cada um é importante para si mesmo e para o outro, assegura a participação de todos, um envolvimento com a aprendizagem. Cada aluno tem a visão não só do professor mas, também, dos colegas, ao contrário da distribuição tradicional em que o professor é o centro de todas as atenções.
Na organização tradicional, formam-se panelas que são passíveis de reconhecimento até pela distribuição espacial. Às vezes, o professor acaba dando aula só para o grupo da frente, fazendo sua própria panela. Nos fundos da sala, ficam os rebeldes, os desatentos, os excluídos tanto da aprendizagem quanto do olhar do mestre. Formam, também, suas próprias panelas. Afinal, é preciso ser solidário e eles o são: solidários. Defendem-se. São alunos presentes/ausentes.
É preciso destruir a adoção de lugares fixos, porque esses geram ideias fixas, porque essa distribuição é metafísica, quer dizer, o lugar condiciona o comportamento do aluno. Caso sejam trocados, os alunos que ficam na frente na sala de aula passaram a ter o comportamento dos que antes estavam atrás e vice-versa. Essa situação se desmancha, quando se adota a nova metodologia em que há oportunidades iguais a todos.
Na aula tradicional, o aluno se torna um mero espectador. Nos grupos áulicos, cada integrante é testemunha da aprendizagem dos outros e é testemunhado por eles, é reconhecido. Não é um objeto que ocupe um lugar numa fila. É um sujeito. É alguém que aprende e que ensina, porque suscita ideias, interroga, pergunta, se nega, responde, reage, briga. Aparece como sujeito. É chamado pelo nome e sabe o nome dos colegas. Sua ausência é sentida e cobrada, e isso é importante para criar laços. O aluno sente-se importante e vai para o lugar onde se sente assim. A evasão e a infrequência ficam prevenidas por si mesmas, na dinâmica do próprio trabalho. Essa forma de trabalhar oportuniza, outrossim, que surjam sentimentos, rivalidades, agressões que, uma vez desveladas, podem ser trabalhadas pelo próprio grupo, obedecendo a uma dinâmica que tem regras que valem para todos. Isso permite que se trabalhem os limites. Há crianças ( e até adultos) que não sabem o que é isso. Pensam que podem fazer ou dizer tudo o que querem. Acham licito tomar para si o que ambicionam, sem considerar os demais. Esse é um recurso adequado, também, para trabalhar disciplina e autoridade partindo do próprio grupo, sem apelar para o autoritarismo do professor. O professor, trabalhando em grupo, através de processos de escolhas pela eleição possibilita resultados como os apresentados a seguir.

* Aos alunos:
- desmanchar as panelas formadas, propiciando maior integração entre eles, e que se conheçam melhor;
- fazer circular a oportunidade da convivência entre todos, porque cada participante muda de grupo;
- dinamizar os intercâmbios pessoais, na medida que cada elemento do grupo mostra o que sabe, o que aprendeu e o que não aprendeu;
- fazer a interação entre os elementos do grupo, facilitando que surja a solidariedade.

* Ao professor:
- desestabilizá-lo de seu lugar fixo frente ao aluno, transportando-o para outros lugares( ao lado do aluno, em torno do grupo, circulando pelos grupos);
- flexibilizar o seu lugar de ensinante que deve saber tudo para o de ensinante/aprendente, em que a dúvida, o não saber resolver uma situação leva-o a buscar procedimentos de saída para os impasses;
- exigir-lhe ser mais criativo, menos rígido, mais observador;
- favorecer um conhecimento maior de seus alunos quanto ao saber jogar, ganhar, perder, respeitar o seu limite;
- compartilhar o seu olhar com um outro a mais, na solução dos problemas;
- ser auxiliado pelo grupo na sustentação da dinâmica da sala de aula.

* Ao grupo:
- fazer aparecerem as diferenças e exercitar o difícil jogo de conhecer o outro e conhecer-se melhor;
- suscitar perguntas entre seus pares e aprender com eles;
- fazer sentir a necessidade de participar, porque sempre se defronta com os outros;
- fazer detonar problemas de relacionamentos, obrigando-o a buscar formas de resolvê-los;
- revelar outros conhecimentos que o grupo já possui, garantindo-lhe o conhecimento pelos colegas.

*Constituição dos grupos
Para a organização dos grupos áulicos, é importante que o professor não se precipite. É preciso que ele tome tempo para fazer com que todos na sala se conheçam, tenham oportunidade de interagir, de conversar, de trabalhar juntos. Da agilidade e da criatividade do professor depende que a etapa de preparação seja muito bem aproveitada e dure o tempo necessário. Só isso vai permitir que os alunos, realmente, possam participar com bastante elementos da eleição que iniciara os trabalhos com os grupos áulicos.
Procura se formar grupos de cerca de quatro a cinco participantes. Três não podem constituir um grupo. Mais de cinco terão de dificuldade até espacial de efetuar as trocas, de interagir.
A eleição se processa da seguinte forma: inicialmente cada integrante do grupo é convidado a votar, por exemplo no colega com quem mais gostaria de trabalhar. Dos mais votados, o professor tira o número correspondente ao número de grupos que pretende formar, calculando a partir do número de integrantes da turma. Se houver empate, todos os votados, entre eles mesmos, decidem. São convidados a votar novamente só eles. Normalmente esse grupo consegue selecionar o número de chefes que permanecerá.
Suponhamos que, numa classe de vinte e cinco alunos, o professor pretenda formar cinco grupos, mas no quinto lugar ficam duas pessoas com a mesma votação. Aí ele tem seis pessoas para cinco chefias. As seis pessoas votam entre si. Normalmente isso resolve a situação.
Escolhidos os chefes ou coordenadores, pela ordem de maior votação, cada um deles escolhe um outro integrante para seu grupo. O terceiro elemento é convidado dentre os demais alunos de comum acordo entre o chefe e seu primeiro escolhido. A ordem dessa escolha agora se inverte. Quem escolheu por último agora o faz primeiro. Para a chamada do quarto integrante, cada um dos três opina e juntos decidem. A ordem do convite se inverte novamente. Até aí cada grupo tem quatro integrantes, o chefe e mais três, mas são vinte e cinco alunos. Restarão, ainda, cinco alunos na turma que não terão sido chamados. Esses terão o direito de decidir para que grupo pretendem ir. É importante salientar que, na forma como se processam as eleições atualmente, em qualquer etapa é permitido recusar o convite, que então terá de ser feito a outra pessoa.Antes de se proceder à eleição, essas possibilidades devem ser tornadas claras para a turma. Inclusive, é preciso que se faça um trato que todos aceitem: cada um tem que pertencer a um grupo. Ninguém pode ficar de fora.
Formados os grupos, cabe ao professor propor uma tarefa que os solidifique. São convidados a dar um nome ao grupo, o que começa a torná-lo singular.
Ultimamente tem sido adotada a técnica de, após a eleição de líderes, ser-lhes oportunizado um momento para falar sobre sua plataforma, explicar para o grande grupo como cada um pretende agir enquanto chefe de um grupo. Isso ajuda a definir escolhas, permite posicionamento, não só dos coordenadores eleitos, mas de todos que estejam envolvidos na atividade.
Conforme as características da turma e a natureza dos conteúdos a serem desenvolvidos, o professor calcula o tempo em que cada configuração de grupo deverá permanecer. Com isso possibilita outras relações dentro da sala, evitando que os grupos se encerrem em limites fechados e inflexíveis, constituindo novas panelas.

*Condições para eleição
Para poder trabalhar com grupos, é preciso que o professor também passe por essa experiência de escolha, de trabalho, porque isso, mais que uma técnica é uma vivência forte, que meche muito com o sujeito. Surgem separações, o ser escolhido, o não ser escolhido. Meche com a estrutura subjetivante. O professor deve ter bastante consciência deste fato. Essa consciência só se adquire pela experiência.
Não só a sustentação teórica é necessária. Ele precisará abrir caminhos na escola e encontrar parceiros entre os colegas, para se sustentar na prática. Deve estar preparado para oposição, já que o desencadear de sentimentos e posturas antes escolhidos assusta muito. Então é preciso não estar só. Se não há colegas que partilhem de suas ideias, certamente isso poderá ser compensado por uma boa supervisão, até que os resultados do trabalho comecem a aparecer. Aí mais pessoas virão.
Preparado o professor, é hora de preparar a turma. Antes de efetuar a primeira eleição, o professor deve se certificar de que cada aluno é razoavelmente conhecido pelos demais. Que lhes sabem o nome e já o viram trabalhar e interagir. Só assim a eleição será valida. Para isso, o professor deverá empregar diversas técnicas de trabalho em grupo, misturando os alunos em configurações diferentes.

*Preparação da eleição
Quando inicia a trabalhar com a turma, o professor, se pretender apoiar-se na estruturação dos grupos áulicos, deve preparar as eleições, certificando-se de que os alunos tiveram a oportunidade de interagir com todos os colegas nas atividades preparatórias, em que é o próprio professor que estabelece a formação dos diversos grupos. Assim, ao propor as tarefas para turma, ele deve lançar mão de diferentes técnicas. Consideraremos, ainda, para exemplificação, a turma com vinte e cinco alunos. O professor pode desenhar no quadro-de-giz o esquema a seguir.
Formação de grupos


GradeABCDE
1
2
3
4
5

Após, pede que cada aluno coloque o seu nome em um dos quadradinhos, qualquer um de sua escolha, ou, se o aluno ainda não sabe escrever o próprio nome, o professor o faz, no espaço escolhido por ele. Depois, forma grupos de um a cinco e atribui uma tarefa diferente para cada um com um tempo determinado e liberdade de atuação.
Findo o tempo para a primeira formação, organiza grupos pelas letras, de A a E, em que cada aluno deverá explicar aos outros quatro o que aprendeu no grupo inicial.
Para crianças ainda não alfabetizadas, uma variação possível é distribuir cartões coloridos em cinco diferentes cores, por exemplo. Primeiro, convida-os a agruparem-se pela cor igual. Após a primeira tarefa, reorganiza-os de forma que em cada grupo haja um elemento de cada cor.
Para garantir que todos se conheçam, ligando os nomes as fisionomias, o professor pode fazer para cada aluno uma folha com as cópias fotográficas de todos eles. Cada criança trás em tirinhas tantas vezes o seu nome escrito quantos são os alunos na turma. Nos espaços que o professor terá deixado, cada aluno, em sua folha, colocará a tirinha com o nome do colega junto a sua foto. No final, cada um deles terá uma ficha de toda a turma, e pelo esforço de unir fotos e nomes. Terá tido ocasião de se deter em cada colega.
Uma técnica que estimula o espírito competitivo, mas também a disciplina, é a seguinte: dispor a turma em forma de U. Então. Combinam fazer uma competição de conhecimento. É possível pedir que cada um venha preparado, propondo-lhes algum tema. Combinar com eles, após a primeira distribuição aleatória, na formação, qual lado é o do primeiro lugar, qual o do último. Fazê-los numerar é um recurso. O objetivo é que cada aluno consiga conquistar o lugar número um ou mais próximo dele, procurando acertar os desafios ou perguntas que lhes forem feitas. Se por acaso já estiver lá que o possa manter. Cada participante terá direito, na sua vez, de fazer uma pergunta para alguém de sua escolha no grupo. Se o colega responder certo, senta-se ao lado do que perguntou, caso esteja em uma posição mais elevada no grupo. Permanece em seu lugar se for superior ao do outro na convenção adotada. Se não conseguir responder, vai para o fim da fila. Para lá vai também, no caso de infringir alguma regra do grupo, como, por exemplo, falar sem ser a sua vez. Conforme as atitudes que pretende trabalhar, o professor pode varias as regras, dando realce a uma ou outra das atitudes de trabalho em grupo. Saber esperar a hora para participar é uma das mais importantes.

*Considerações finais
Mesmo o trabalho com grupos áulicos, que comprovou ser eficiente, não é garantia de que nunca vai haver uma falha na integração do grande grupo. Por isso é preciso que o professor seja atendo e sensível que, ao detectar a formação de grupos de resistência, ou o isolamento de algum(ns) dos alunos, imediatamente interfira elaborando nova técnica apropriada para a ocasião.
No geral, no entanto, a um bom resultado no sentido de permitir que se trabalhem rivalidades, agressões, invejas, falta de limites, que se desenvolvam a solidariedade, o respeito pelo outro, a capacidade de colaboração, a realização e a aceitação de crítica construtiva.
A ideia é que cada aluno construa seu espaço na sala de aula, progrida, aprenda e ajude a aprender.
O trabalho didático compreende três momentos: o laboratório, o procedimento e o rendimento. Não são a mesma coisa o rendimento é o show, é o que veem os pais, os supervisores. Mas é no procedimento que o professor tem que ensinar. E ele se prepara para isso fazendo laboratório. A todo um trabalho anterior que se conclui, que se desvela no rendimento, mas que não se resume a ele. Na verdade, na sala de aula, o que o professor tem de ser é um grande animador. Precisa colocar obstáculos para que o aluno vença: são as dificuldades da aprendizagem. Elas são normais e essenciais no processo.
Já um problema de aprendizagem não é desejável. Surge quando o desafio é difícil demais e envolve uma angustia paralisante. Ou, quando ele é fácil demais, produz tédio, gera desinteresse, e consequente não-aprender. Quando o aluno não vai para a aula, não aprende: problema também. Quando há problema psicológico, de personalidade, algo o professor poderá fazer, aproveitando a dramática. As regras de funcionamento da turma, nesse caso, podem auxiliar a manter dentro de limites a expressão desses problemas e minimizar-lhes os efeitos negativos na aprendizagem escolar.


Assim, sugere-se a todos os educadores uma maior exploração de grupos de trabalho. Dessa forma teremos uma sala de aula em que a autonomia, a solidariedade e o aspecto social tornar-se-ão características centrais.

domingo, 26 de julho de 2009

Stanley Kubrick, o artista das imagens


Hoje, 26 de agosto, Stanley Kubrick, um dos maiores gênios da história do cinema, estaria completando seus 81 anos. Com uma carreira que se compõe apenas de bons filmes, o cineasta, embora polêmico, contou com reconhecimento de público e crítica. Um estilo único no contexto da arte cinematográfica!
Sua obra mescla violência e lirismo, revolução e conservadorismo, erotismo e a mais pura inocência... São obras de alto valor estético e de grande potencial no ramo do entretenimento. Cinema Arte! Arte assim mesmo, com A maiúsculo.
Seus filmes, geralmente, desnudam o lado obscuro da natureza humana, em toda sua complexidade e contradição, o que faz com que o ponto de vista da primeira pessoa seja bastante usado em suas obras. Desse modo tornam-se eles personagens cujas máscaras se apresentam ambíguas, entre a crueldade desumana e cruel humanidade.
No legado de seus filmes, podemos observar a alma depondo suas máscaras, num jogo de mistério e sedução, como se observa exemplarmente em seu último filme
De Olhos Bem Fechados (1999). Esse flerte que se constata entre suas personagens e o que há de oculto, de intrigante e de instintivo desencadeia tramas intrincadas, que seduzem o observador, ao mesmo passo que causam estranhamento e inquietação. As obras de Stanley Kubrick incomodam, pois mostram o que de mais inquieto existe em nós, em nossa essência.

Para que todos possam ver por si mesmos a genialidade de Kubrick:


De Olhos Bem Fechados (1999)
Nascido para Matar (1987)
Iluminado, O (1980)
Barry Lyndon (1975)
Laranja Mecânica (1971)
2001: Uma Odisséia no Espaço (1968)
Dr. Fantástico (1964)
Lolita (1962)
Spartacus (1960)
Glória Feita de Sangue (1957)
Grande Golpe, O (1956)
Morte Passou por Perto, A (1955)

Vale lembrar que além desses, Kubrick deixou o projeto de Inteligência Artificial, o qual não conseguiu realizar. A. I. acabou recebendo os cuidados de Steven Spielberg, que fez de um projeto excepcional um filme comum. A genialidade de Kubrick acompanha parte do filme, nota-se seu toque, mas falta algo e sobra muita coisa. Percebe-se claramente onde acaba Kubrick e se inicia Spielberg, infelizmente... Um grande filme, com um medíocre final...

A virtude vem de nós mesmos. É uma escolha que só a nós pertence. Quando um homem perde a capacidade de escolher, deixa de ser homem. (Laranja Mecânica)




Dia da Vovó

(Homenagem às minhas avós, que infelizmente se foram cedo demais, e a todas as avós... Em especial, à vó Cota, que amo tanto quanto se neta de verdade fosse.)

No dia 26 de julho, dia de Santa Ana, mãe de Maria e avó de Jesus, comemora-se também o dia da avó.Segundo consta, Ana e Joaquim, seu marido, não tinham filhos e sempre rezavam ao senhor pedindo uma criança. Ela teve, então, uma menina, quando estava jé em idade avançada, e a batizou de Maria.
No dia de hoje temos que refletir sobre a importância dessa figura no seio da família, valorizar sua função na formação das novas gerações e nos lembrar de que pelo menos um pouco do que somos devemos a ela.
Assim, aqui propomos um projeto educacional através do qual possamos reconhecer a importância dessas mulheres em nossa vida e em nossa formação.

Do tempo da Vovó

Justificativa

É importante que não permitamos que nossas crianças se percam do passado. Temos que lembrar que há uma história pessoal em cada um de nós e uma história cultural que nos absorve desde o nosso nascimento. abrir mão dessa história é abrir mão de grande parte de nossa vida. Assim, temos que trazer para a vivência educativa de nossas crianças o contato com essa cultura. Assim, propõe-se um projeto em que as elas conheçam os brinquedos e brincadeiras antigas, resgatando assim tradições e culturas que estão sendo substituídas por brinquedos e jogos eletrônicos. O contato com este tema proporciona momentos de criação, interação e diversão, ou seja, uma conjunção entre o lúdido, a teoria e a prática. Além do mais, vemos projetos educacionais que envolvem, geralmente, alunos das séries iniciais do ensino fundamental e esquecemo-nos que o lúdico é muito importante para a vida em toda ou qualquer fase do desenvolvimento. Dessa forma, o presente projeto pode ser desenvolvido em qualquer ano do ensino fundamental, dependendo apenas da forma com a qual será conduzido pelo grupo de professores. E o melhor da história: é uma forma simples e agradável de trabalhar de forma interdisciplinar, mostrando às nossas crianças que, embora elas estudem os conteúdos separados em direntes áreas do conhecimento, este não é compartimentado, mas saberes que se interrelacionam.

Objetivo Geral

Desenvolver um conhecimento que surja da experiência e apresenta-se compartilhado entre as crianças e suas avós.

Objetivos específicos

* Desenvolver a socialização entre os alunos;
* Aprender através da brincadeira;
* Resgatar a cultura e a história pessoal e familiar de cada um;
* Trazer a família para o ambiente escolar para que participe ativamente da formação dos indivíduo;
* Estabelecer uma atividade coletiva em que a ajuda mútua seja possível e, sobretudo, desejada.


Atividades

O projeto trabalhará com atividades diversificadas, entre as quais haverá brincadeiras, jogos, confecção de cartazes, manuais, etc. Assim, o projeto proporcionará contato com situações reais do contexto social através da elaboração de convites, entrevistas com algumas vovós e até mesmo a organização de um chá com as avós, em que as crianças participaram de todos os preparativos para a recepção. Contudo, o mais importante é que as crianças aprendam através de brincadeiras e do resgate da nossa cultura através das experiências das avós.

Sugestão de brincadeiras: Passa Anel; Amarelinha; Peteca; Esconde-Esconde; Pular Corda; Pião; Cinco Marias; Trava língua; Roda; O-que-é-o-que-é?... entre tantas outras da cultura popular.

Podem-se realizar brincadeiras com premiações pré estabelecidas, como:

1. Qual é o chá? (brincadeira em que pode-se trabalhar a ortografia, com os usos do X e do CH)
Qual o chá que se usa na cabeça? (chapéu)
O chá que agasalha ? (xale)
O chá que abre portas? (chave)
O chá da praça? (chafariz)
O chá que é um problema? (charada)
O chá que é um tipo de casa (chalé)
O chá da fábrica? (chaminé)
O chá que fica no campo? (chácara)
O chá que se tem de escolher para votar? (chapa)
O chá que atrai a simpatia? (charme)
...

2. Qual a vovó que tem o maior número de netos?

3. E qual a vovó mais jovem?

4. Como está a memória da vovó?
Diz-se um trecho de um provérbio popular e as avós têm que completar com o restante.
Quem não tem cão... caça com gato.
Quando um não quer... dois não brigam.
Quem com ferro fere... com ferro será ferido.
Diga-me com quem andas... e te direi quem és.
Água mole em pedra dura... tanto bate até que fura.
Ri melhor... quem ri por último.
Gato escaldado... tem medo de água fria,
Mais vale um pássaro na mão... do que dois voando.
Quem tem boca... vai à Roma.
Pau que nasce torto... não tem jeito morre torto.
Quem corre cansa... quem não corre alcança.
Antes só... do que mal acompanhado.

5. Somando os pontos
Premiar as avós que somarem mais pontos nos seguintes quesitos:
o número de filhos
anos de casamento
botões da roupa
o número de netos
idade de cada um

Essas são apenas algumas das atividades que podem ser realizadas. O importante é que se reconheça o grande valor que a figura da avó tem e sempre teve na instituição familiar. Importância essa que vem numa crescente, posto que desde que as mães saíram para o mercado de trabalho, as avós vem se tornando cada vez mais ativas na formação das novas gerações, participando como um todo da vida dos netos, desde o aspecto afetifo até à presença constante nas escolas.
A todas às avós, parabéns por serem esse misto de força e docura.

sábado, 25 de julho de 2009

Palavra, a pedra fundamental



No Dia do Escritor, um olhar a um dos maiores escritores de nossa literatura.


Drummond, em boa parte de sua obra, recria a Itabira de seu passado, cantando sua cidade, retomando acontecimentos. Muitas vezes Drummond trilha um caminho que mais parece querer transformar passado em presente e à medida que, poeticamente, esse processo se configura, o poeta estabelece um vínculo cada vez mais forte com esse passado do qual não consegue (ou não quer) se “libertar”.
Não há, porém, uma descrição desse mundo, desse espaço revivido, há sim um diálogo com ele, um diálogo em que o referencial é o próprio eu. Um eu insatisfeito e repleto de desejos. Ainda que o eu seja um referencial, há nas poesias de Drummond uma extremada consciência da realidade. Entre o eu e o mundo, então, se estabelece uma relação. Nota-se nesse processo de reviver o passado e de relacionar-se com o mundo uma profunda consciência de seu interior e daquilo que lhe é exterior também. Assim se configura uma poesia ativa, que reflete sobre o mundo e, acima de tudo, reflete sobre si própria.
A inquietação expressa na atitude de compreender o mundo e de se autocompreender se mantém na tentativa de compreender a própria poesia. É como se a poesia de Drummond tivesse como objetivo uma eterna busca, busca essa que se dá independentemente da temática que a motiva. O questionamento e a busca da própria poesia conduzem a um processo de integração entre a palavra e o mundo.
A palavra e a poesia tornam-se instrumentos de luta. Surge, então, a necessidade de dominar a palavra, de fazê-la submissa, de subjugá-la. Dominar a palavra equivale a dominar o mundo. Descobrir, desvendar e desvelar a palavra é equivalente a descobrir, desvendar e desvelar o próprio universo. A palavra é um enigma que tão logo seja decifrado é capaz de decifrar também o enigma da vida, do ser, do mundo.
Drummond tem ciência de que a poesia (como consequência do uso da palavra) é conhecimento e, por isso, capaz de transformar o mundo. Tanto a poesia quanto a palavra têm o poder de libertar, de prender e, sobretudo, de transformar e daí a necessidade de dominar a palavra. “Inspiração, respiração, exercício muscular” são necessários ao fazer poético. Se a inspiração é preciso para poetar, é evidente que não é absoluta. A palavra deve ser trabalhada, lapidada, polida. Não pode ser qualquer palavra, deve ser A PALAVRA, a única, a necessária.
Ao produzir a poesia, o poeta coloca-se numa posição de enfrentamento com a palavra, pois é dela que ele deverá extrair os significados necessários.
A arquitetura do poema é um meio para chegar à concisão de sentidos, à concisão poética, à união de palavra e pensamento. A poesia não pode ser um simples reflexo do mundo, mas deve ser o próprio universo. Universo esse que deve ser limpo, sem sobras; os restos devem ser retirados para que não haja excessos que certamente comprometerão a qualidade do poema.
Assim, Drummond apresenta uma poesia enxuta cuja palavra não apenas é o foco central, mas a própria poesia. Se a escolha da palavra é árdua é porque é nela que os segredos do universo se encontram. Estabelece-se, então, uma luta entre homem e palavra na tentativa de uma união plena que nunca se efetiva. Essa tentativa de união entre homem e palavra, universo e verso se dá por uma negação à fuga da realidade. Os olhos do poeta estão atentos ao movimento do mundo, daí sua palavra ser também ativa.
Para Drummond a palavra é um mistério que deve ser desvendado. O fio que separa poesia e homem, palavra e mundo é sutil, maleável, mas ainda assim impossível de ser compreendido. Drummond foi perseguido pela busca da palavra exata.
Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
Deixam-se enlaçar,
tontas à carícia
e súbito fogem
e não há ameaça
e nem há sevícia
que as traga de novo
ao centro da praça.
Luta com a palavra como quem busca nela significados que sabe que elas não têm. Ainda assim, a luta prossegue. O desejo de chegar à palavra ideal motiva a busca. O problema está no fato de que entre significante e significado não há uma relação perfeita. O poeta é impotente diante do poder da palavra. Elas são muitas e são fortes e poderosas, o poeta é apenas um. Por ser lúcido, o poeta sabe não ter a capacidade de encantar as palavras. Ainda que ele sinta que está prestes a seduzi-las, elas se esquivam e fogem de seu domínio.
Por maior que seja o esforço do poeta, ele encontra-se numa luta inglória, a derrota é certa, as palavras vencem o combate. Mas o poeta não desiste, continua sua tentativa, sua luta pela expressão. A luta, então, deverá continuar enquanto o poema não estiver acabado. Mas existe algum poema acabado? Não estaria todo poema de algum modo, esperando algo que nunca chega, como a pedra que espera ser transposta? Contudo, o poeta faz a sua parte, mas o poema continuará com aqueles que o lerem, e a palavra estará lá esperando ser decifrada. E para tanto é necessário a escolha da palavra exata da qual o poeta não desistirá enquanto não a encontrar.
Insisto, solerte.
Busco persuadi-las.
Ser-lhes-ei escravo
de rara humildade.
Guardarei sigilo
de nosso comércio.
Na voz nenhum travo
de zanga ou desgosto.

Sem me ouvir deslizam,
perpassam levíssimas
e viram-me o rosto.
Lutar com palavras
parece sem fruto.
Não têm carne e sangue
Entretanto, luto.
O poeta é um lutador. Derrotado na tentativa de persuadir a palavra, luta com ela. O homem torna-se seu escravo. Ainda que haja a necessidade de o homem dominá-la, ele encontra-se sob seu domínio. Se oferece como escravo simplesmente em troca do dom de saber usá-la. As palavras, porém, são leves, flutuam, deslizam, não se entregam, o que faz com que a luta continue. É vã essa luta, posto que não há campo para a batalha além do papel, no qual a palavra pode se recusar a ser impressa. A palavra não tem carne, nem sangue, não há como feri-la. O máximo que se consegue é prosseguir o combate, a luta inglória.
A palavra, como a poesia, foge, se recusa a surgir quando chamada. Mas o poeta suplica por ela:
Palavra, palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate.
Quisera possuir-te
neste descampado,
sem roteiro de unha
ou marca de dente
nessa pele clara.
Preferes o amor
de uma posse impura
que venha o gozo
da maior tortura.
O desafio que a palavra impele ao homem é sempre aceito, para o homem a palavra é imprescindível, do mesmo modo que o homem é imprescindível à palavra. Sem ela não é possível concretizar a tão desejada união que só ocorre no interior do poema. Onde acaba a palavra e inicia o homem? No tecer do texto, os dois se misturam. Lutar com as palavras não é apenas um enfrentamento em busca da essência da poesia é também a tentativa de expressar a relação existente entre o eu e o mundo. Relação essa que se estabelece de modo conflitivo, daí o embate e a impossibilidade da união plena.
Luto corpo a corpo,
luto todo o tempo,
sem maior proveito
que o da caça ao vento.
Não encontro vestes,
não seguro formas,
é fluido inimigo
que me dobra os músculos
e ri-se das normas
da boa peleja.
A luta corpo a corpo travada com a palavra é tão inútil quanto a caça ao vento. Tanto a palavra quanto o vento são fluidos, incapazes de serem capturados ou “domesticados”. Sem vestes, sem formas, na fluidez de sua existência a palavra resiste. A luta braçal, corpo a corpo tão conhecida do homem, é inútil nessa batalha, os músculos de nada valem se na tentativa de capturar as palavras. O esforço físico só é válido para organizá-las, não tem função para segurá-las, pois como o vento, elas se dissiparão e ao serem agarradas, não estarão mais lá. As normas da luta nesse caso não têm valor, posto que jamais conseguirá o homem reter a palavra entre seus dedos.
Iludo-me às vezes,
precinto que a entrega
se consumará.
Já vejo palavras
em coro submisso,
esta me ofertando
seu velho calor,
outra sua glória
feita de mistério,
outra seu desdém,
outra seu ciúme,
e um sapiente amor
me ensina a fruir
de cada palavra
a essência captada,
o sutil queixume.
Mas, ai! é o instante
de entreabrir os olhos:
entre beijo e boca,
Novamente o poeta pressente uma vitória que não se configura e que está condenada a não se configurar. A luta é desigual, posto que a palavra é quem seduz ao homem que a deseja e cada vez mais a procura, gerando assim uma busca perpétua. O domínio é da própria palavra que se torna o sujeito e o objeto do fazer poético. O que o poeta realmente deseja é “fruir de cada palavra” a sua essência e para tanto ele precisa de ensinamentos que ela nunca lhe dá.
O dia passa, a luta permanece. “O inútil duelo” não se resolverá, mas também não acabará. O poeta é um lutador e como tal continuará lutando. O dia se passa, a noite chega, e a busca pela palavra será infinda, dado que
O ciclo do dia
ora se consuma
e o inútil duelo
jamais se resolve.
O teu rosto belo,
ó palavra, esplende
na curva da noite
que toda me envolve.
Tamanha paixão
e nenhum pecúlio.
Cerradas as portas,
a luta prossegue
nas ruas do sono.
O duelo é inútil e jamais se resolverá. A busca constante, infinita e cíclica permanecerá. O desejo insatisfeito pela integração essencial homem/palavra continuará motivando a luta branca sobre o papel vazio. Essa batalha será infinita posto que se dá numa ausência de espaço, em que o adversário não se corporifica. Uma espécie de luta contra o nada, mas que é um tudo essencial. Trata-se de uma busca divina de algo que tão logo se concretiza se dissipa: o verbo. “No princípio era o verbo e ele se fez vida”, assim como no princípio era a música e ela se fez poesia e habitou entre nós.
O verbo é divino, entretanto, tão logo posto como um tijolo da construção, requer um trabalho árduo para a arquitetura do poema. Por ser divina, a palavra é o universo do qual se extrai o verso. Poesia é palavra. É o uso que se faz dela. O modo com o qual ela é empregada. Mas acima de tudo aquilo que se lê nela. Por mais que se especule sobre o que ela seja, a procura da poesia permanece.
Em “Procura da Poesia”, Drummond continua essa busca infinita cujo objetivo não será alcançado e desde o início está condenado a ficar sem resposta. O poema que se apresenta como a busca do fazer poético e mescla definições, feitas através da negação, e ensinamentos para o ato de poetar não encontra resposta do que seja poesia.
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.

As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casa.
Não é música ouvida de passagem; rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
A poesia não depende de temas específicos, não requer moldes. Apenas a palavra é imprescindível à ela, pois poesia vai além do sentir e pensar. Poetizar não implica retomar acontecimentos do passado ou dar vida à cidade natal, para que haja poesia não é necessário refletir sobre o movimento das coisas ou sobre os objetos do cotidiano. Um lembrança distante é apenas uma lembrança.
O interessante nesses “mandamentos do fazer poético” que Drummond cria ao longo do poema é que tudo aquilo que ele diz que não se faz; tudo aquilo que, segundo o poema, não é poesia, é o que o próprio poeta faz. Drummond foi o cantor de Itabira, poetizou o cotidiano, a vida, o amor, as reminiscências de um passado que ainda que perdido no tempo e no espaço ficaram eternizadas em forma de poesia. A questão é que o simples tema escolhido não é poesia mas o modo com que é tratado que o é.
O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
A poesia não é a natureza, o homem, a chuva, a noite ou qualquer outro tema que nela se encontre. A poesia é a fusão entre esse objeto que é o tema (mas que é também a própria palavra nele fundida) e a palavra que é o sujeito. A poesia somente se configura e se concretiza quando aceita como tal. A poesia está no que se entende dela. É, portanto, necessário buscar as diversas faces das palavras encadeadas a cada verso, pois somente assim, encontrar-se-á a chave, a resposta, o entendimento mais profundo do poema. O poema, como a própria palavra, é um mistério que espera ser descoberto.
Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de descrevê-los.

Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Ao fazer poético não é preciso que se veja o que se dissipou. A imagem no espelho ou a memória são fluidas como a palavra e a própria poesia, mas são efêmeras e se dissipam ao vento. A palavra, tão logo concretizada em forma de poesia, permanecerá, tornando-se parte de uma unidade essencial e indissociável.
Para ser introduzido no reino das palavra, é necessário que o homem esteja acompanhado de um silêncio completo, somente assim poderá ele ouvir o que elas realmente têm a dizer, aquilo que verdadeiramente merece ser escrito. A necessidade de trabalhar a palavra é sempre reiterada por Drummond. Na arquitetura da palavra ela deve ser semeada para que possa brotar. Essa semeadura, porém, requer um árduo trabalho. O uso artificioso da linguagem é um agrupamento de palavras que nada dizem, para que digam alguma coisa, devem ser escolhidas de modo que o centro do interesse seja a própria palavra em si.
Por ser divina a palavra é vida, por ser vida a palavra é provocativa, combativa, mas também indispensável. É no seu reino que os poemas se encontram e delas são formados. As palavras se realizam nelas mesmas, como os poemas se realizam apenas em seu próprio interior. Nessa tentativa de unir palavra e objeto, há também uma tentativa de ligar poema e poesia, forma e conteúdo. Essa tentativa de condensação entre sujeito e objeto, palavra e pensamento, forma e conteúdo marca a obra de Drummond.
Se por um lado essa união entre a forma e o conteúdo elimina a transcendência, por outro, é já uma forma de transcendência em que essa fusão leva a um terceiro elemento: a própria poesia. A poesia é, então, a própria forma que assume. Entretanto, esse desejo de unir forma e conteúdo, palavra e pensamento é uma utopia que o poeta nunca consegue realizar. A tentativa de união plena é frustrada – e o poeta sempre soube que assim seria. Trata-se de uma luta em que o poeta já está derrotado desde o início, posto que, o resultado atingido nunca será o esperado.
Por essa ligação direta que se estabelece entre vocábulo e poesia, é que é preferível um poema não escrito a um que forçosamente se concretizou. Como a palavra a poesia tem o poder de falar quando necessário e de calar quando conveniente. É por esse poder de silêncio, que a poesia nunca termina, sempre há algo mais, dito ou não dito.
O silêncio a que ela conduz é uma fonte infinita de desejos. Desejos que nem sempre, ou melhor, quase sempre não se realizam. E a busca prossegue, senão mais pelo autor, pelo leitor, isso porque, como diz Proust, "sentimos muito bem que a nossa sabedoria começa onde a do autor termina, e gostaríamos que ele nos desse resposta, quando tudo que ele pode fazer é dar-nos desejos". É esse silêncio inquietante e provocativo que a poesia possui e provoca. Um silêncio fascinante que nem mesmo por ser silêncio deixa de ser palavra.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodias e conceito
elas se refugiam na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
São as palavras que devem ser contempladas, não a forma fria e congelada que só revela o exterior e não a essência. As mil faces da palavra levam as mil interpretações do poema, o que só aumenta a necessidade de que a escolha seja da palavra ideal, perfeita e exata. As faces secretas, ainda que não vistas, estão lá e chamam ao combate. Um combate pelo qual o poeta já passou anteriormente, mas agora o leitor é posto na luta. Somente o que tiver a chave poderá abrir as portas que levam ao significado secreto do poema. É como a esfinge que desafia: “decifra-me ou te devoro”.
Ainda no terreno deserto, em que melodias e conceitos não podem chegar, as palavras se escondem no escuro da noite. O sono de que estão impregnadas permite que, sem reação, sigam o rumo de um rio difícil onde continuarão desprezadas até o momento de serem descobertas. Assim, nesse estado apático, a palavra espera ser decifrada. Ser conduzida a um espaço em que significados, então, lhe sejam atribuídos. Como no curso da vida, a palavra aguarda calmamente o momento de seu nascimento, em que sujeito e objeto, palavra e pensamento serão, enfim, um só: a própria poesia.
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