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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Amizades, Literatura e afins...

Olá, queridos...
Como estão?
Desculpem a ausência, mas estou ainda curtindo minhas férias na praia... Dei uma pequena passadinha em casa para prestigiar a defesa de mestrado da minha querida amiga Ana Karina, realizada na PUCRS hoje pela manhã, lindo trabalho sobre A Luz no Subsolo, do Lúcio Cardoso (quem quiser saber mais sobre o autor, pode olhar aqui). Parabéns, amiga, tudo perfeito, conforme se pode esperar de ti!
Enfim, como estou aqui ainda, aproveitei para dar-lhes um oi e desculpar-me por não colocar em dia as visitas aos amigos, falta tempo, pois já estou voltando para a pousadinha na praia... Retorno dia 4 de fevereiro, quando voltarei também às atividades do blog...
Deixo um carinhoso beijinho cheio de saudades à vocês...


No inferno deve haver um lugar à parte para os medíocres, e o próprio Satã, contemplando a presa inerte, tridente erguido, deverá indagar de si mesmo um tanto perplexo: “Que farei com isto, se até o sofrimento em sua presença diminui de intensidade?
Lúcio Cardoso

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Martin Luther King

Martin Luther King
15 de janeiro de 1929, Atlanta (EUA) - 4 de abril de 1968, Memphis (EUA)
Estava pensando o que postar em quinze de janeiro... Uni minha revolta por questões banais que fazem as pessoas sentirem-se superiores umas às outras e o dia do nascimento de um dos mais eloquentes oradores que o mundo já conheceu...
Martin Luther King foi um dos mais importantes líderes do ativismo pelos direitos civis para pessoas negras. Um pastor protestante e ativista político, que zelava pela paz mas sem deixar de lutar pelo que acreditava. Suas palavras são para ler e pensar:
Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.
Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.
Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.
"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.
Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,
De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"
E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.
E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.
Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.
Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.
Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.
Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.
Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.
Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.
Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.
Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.
E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho espiritual negro:
"Livre afinal, livre afinal.
Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal."
(Martin Luther King, 28 de agosto de 1963)
Essas palavras de Luther King giraram o mundo como mensagem de liberdade e igualdade! Quase cinquenta anos se passaram e elas não são apenas uma memória triste da história. A igualdade racial ainda não é plena, a igualdade social ainda é um sonho... Muito mais que um debate sobre negros e brancos, ricos e pobres, instaura-se um debate sobre os descaminhos do preconceito e da discriminação... A igualdade deve ser para todos, independente de raça, credo, classe social, orientação sexual... O que faz uma pessoa melhor que a outra? O caráter! O que faz uma pessoa valer mais que a outra? Nada, somos todos feitos da mesma matéria descartável da humanidade!

sábado, 14 de janeiro de 2012

Lewis Carroll

Lewis Carroll
27 de janeiro de 1832 - 14 de janeiro de 1898
Lewis Carroll é o pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson, matemático, fotógrafo amador e escritor inglês. Autor de Alice no País das Maravilhas. Nasceu na cidade de Daresbury, em Cheshire, no noroeste da Inglaterra. Estudou matemática no Christ Church College, da Universidade de Oxford. Trabalhou na instituição entre 1855 e 1888. Em 1861 foi nomeado diácono da Igreja Anglicana. Fascinado por crianças, desenvolveu para elas jogos matemáticos e passatempos.
Fez vários ensaios fotográficos das meninas Lorina, Edith e Alice, filhas de Henry Liddell, seu grande amigo. Sendo que a última dessas meninas o inpirou na escritura de Alice no País das Maravilhas (1865), narrativa das aventura pelo mundo mágico e imaginário em que se passa a narrativa, e Alice Através do Espelho (1872), narrativa em que tudo se passa às avessas.
Carroll conseguiu uma combinação única de nonsense, fantasia e absurdo, um verdadeiro precursor de vanguardas. Mesclou elementos de lógica e paradoxos matemáticos. Tal elaboração fez com que seu trabalho se tornasse clássico da literatura infantil e sátira moral inteligente, cheio de notas filosófica e lógica, embora, para um público adulto e atento.
Carroll é, também, objeto de várias especulações sobre questões de sexualidade, o que se dá devido à sua relação de amizade com várias meninas, as quais gostava de fotografar em variadas poses, vestidas ou nuas.
Também escreveu poesia, algumas cheia de elementos fantásticos. Além de diversos textos de matemática, foi o autor de obras dedicadas à lógica simbólica, com o propósito explícito de popularização, em que aponta sua propensão para explorar os limites e contradições de princípios aceitos.
Apesar de certas polêmicas em sua vida, ele ficou eternizado por Alice, uma das mais belas e imaginativas obras da literatura.
Fotografia de Lewis Carroll.
Revelando seu gosto por fotografar meninas, aqui posando com vestes de acordo com a época.
alice
Fotografia de Lewis Carroll.
Observa-se que nesta segunda pose tem-se um contexto e vestimenta pouco comum para uma menina do século XIX ser fotografada.
Fotografia de Lewis Carroll.
Aqui um dos inúmeros nus infantis retratados pelo autor.
Fotografia de Lewis Carroll.
Alice Liddell, a preferida das amigas de Carroll, inspiração para seus dois clássicos infantis, Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho.
Fotografia de Lewis Carroll.
Mais uma vez Alice, aqui com trajes pouco comuns à época.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Projeto para lembrancinha de aniversário

Olá, pessoal...
Boneca Flor
Há um tempinho minha comadre e eu estamos pensando nas decorações da festinha de um aninho da fofíssima Valentina. Lembram dela? Aqui, com um dia; abaixo, com 7 mesinhos!
Princesinha Valentina moldura Moranguinho Baby
A ideia é um pouco diferente... sempre se pensa personagens, princesas, fadas... mas a Valentina terá uma festa de boneca! A dinda bobona e babona aqui já começou a colocar as mãos na massa... Hoje, então, trago para vocês um projeto para a lembrancinha. A ideia é uma boneca flor, mas como será a lembrancinha da festa para ser distribuída aos convidados, ela não pode ser muito grande. Aqui, no plano inicial, ainda a ser trabalhado, fiz uma flor de feltro cor de rosa com um fuxico em tricoline na cor crua para fazer o rostinho. Simples de fazer e bem delicadinha. O vasinho, também de feltro, é cheio com argila para dar firmeza ao palitinho de churrasco revestido de fita de cetim verde fazendo as vezes de caule da florzinha. Como está ainda na faze experimental, não fiz os detalhes...
Boneca Flor
Embora a qualidade da foto não esteja boa, dá para observar o rosto no detalhe. Os olhinhos são feitos em miçanga, assim dá uma modeladinha no rosto. Com tinta de tecido se faz os cílios e boca. Para as bochechas rosadas, optei por maquiar com sombra de olho para dar mais suavidade...
Por enquanto é isso... Até o dia 23 de abril terei muita coisa para lhes mostrar!
Beijinhos!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Charles Perrault

Charles Perrault
(1628-1703)
Contemporâneo de La Fontaine, Charles Perrault passou toda sua vida em Paris, morrendo aos 75 anos. Foi poeta da Academia Francesa e não atuou exclusivamente no mundo das letras. Trabalhou como advogado, tornou-se superintendente de construções do Rei Sol Luís XIV, posição política em que muito se destacou.
Membro da alta burguesia, Perrault foi imortalizado por uma literatura de cunho popular que caiu no gosto infantil, contando também com a aprovação dos adultos. Com pouco mais de 50 anos, trocou o serviço ativo pela educação dos filhos. Movido por esse desejo, começou a registrar as histórias da tradição oral contadas, principalmente, pela mãe ao pé da lareira.
Com quase 70 anos, publicou um livro de contos conhecido, na época, como "Contos de velha", "contos da cegonha" ou "contos da mamãe gansa", sendo este o pelo qual ficou conhecida sua obra. A primeira edição, de onze de janeiro de 1697, recebeu o nome de "Histórias ou contos do tempo passado com moralidades", remetendo à famosa moral da história presente ao final de cada texto.
Com estilo simples e fluente, as histórias eram adaptações literárias que traziam ao final conceitos morais em forma de verso. Poromovendo, desde a origem da literatura infantil a existência de um teor pedagógico associado ao lúdico.
Os "Contos da mamãe gansa" formam uma coletânea de oito histórias, acrescidas, posteriormente, de mais três. Os contos que falam de princesas, bruxas e fadas trazem histórias que habitam até hoje o imaginário infantil. A figura da Mãe Gansa já demonstra a aproximação de Perrault com as narrativas populares. Mãe Gansa, numa ilustração da edição original, assemelha-se a uma velha fiandeira que conta histórias. Imortaliza-se, assim, este símbolo no mundo literário.
Os oito contos iniciais são:
A Bela Adormecida no Bosque
Chapeuzinho Vermelho
O Barba Azul
O Gato de Botas
As Fadas
A Gata Borralheira
Henrique, o topetudo
O Pequeno Polegar
Os três contos incluídos posteriormente na coletânea são:
A Pele de Asno
Os Desejos Ridículos
Grisélidis
Apesar de conhecidos como Contos de Fadas, em boa parte dos contos não há fadas. Eles são contos maravilhosos, cujos elementos alheios à realidade concreta assumem papel decisivo no contexto narrativo, inclusive as fadas (boas ou más). No conto Chapeuzinho Vermelho, o lobo personificado é o elemento maravilhoso; em Barba Azul, há a chave com a mancha de sangue que não pode ser lavada; em O Gato de Botas, também há a personificação do gato, além da presença do Ogro e suas transformações; enquanto em O Pequeno Polegar existem as botas de sete léguas...
Com a palavra, a Mamãe Gansa:
Gato de Botas
Há muito tempo, um velho moleiro, que tinha trabalhado a vida inteira, chamou seus três filhos e distribuiu entre eles tudo o que possuía. Entregou o moinho ao mais velho, deu o burro para o segundo, e para o terceiro, que era o caçula, sobrou só o gato.
Quando os três filhos ficaram sozinhos, o mais velho combinou viver e trabalhar junto com o segundo irmão. Ele podia fazer farinha no moinho, e o outro iria vendê-la na cidade, com o burro.
Mas o caçula, que só tinha um gato, era melhor que fosse embora com ele, pois para nada servia.
O caçula ficou muito triste, mas concordou:
— Vocês têm razão. O mais que posso fazer com um gato é comer
uns bifes e usar a pele para um gorro.
Depois fez sua trouxa e pôs-se a caminho, levando o gato. Não sabia para onde ir. Andou durante muito tempo… Quando se cansou sentou-se num tronco caído, para pensar. O gato ouvira a conversa dos irmãos, e, agora que estava sozinho com o dono, falou:
— Meu amo! Poderei ser-lhe mais útil vivo que morto. Arranje-me um par de botas para andar no bosque e um saco. Você vai ver do que eu sou capaz.
O rapaz estranhou o pedido, mas arranjou as botas e o saco para o gato.
— Quero só ver o que um gato pode fazer com isto — pensou.
Assim que recebeu o que pedira, saiu depressa, cantando alegremente:
De hoje em diante meu destino é ao meu dono servir. Hei de cobri-lo de ouro! Basta de me divertir! Com este saco de pano vou para o bosque distante, Um cérebro que trabalha faz fortuna num instante.
Enquanto caminhava em direção ao bosque, o gato ia fazendo seus planos. Seria difícil imaginar um gato mais esperto do que aquele. Bem que ele dizia que sua cabeça funcionava! Ele não perdia tempo. Seu dono nunca poderia adivinhar o que ele pretendia fazer…
Chegando ao bosque, o gato pôs no chão o saco bem aberto e dentro jogou uns pedacinhos de pão. Depois, deitou-se ali perto fechou os olhos e fingiu de morto. Dali a pouco uma lebre se aproximou e foi comer o pão. Entrou no saco e… zás! Num piscar de olho o gato puxou os cordões, fechando o saco, colocou-o ao ombro, e correu ao palácio do rei.
— Majestade, venho trazer-vos esta lebre, que meu amo e senhor, Marquês de Carabá, caçou especialmente para vós.
O rei agradeceu o presente e mandou o cozinheiro preparar a lebre para o jantar. Nos dias que se seguiram, o gato tornou a levar ao rei vários presentes do Marquês de Carabá: lebres, codornas, coelhos, faisões. O gato chegava ao palácio e, fazendo uma grande reverência, entregava ao rei a caça do dia:
— Majestade, eis aqui duas perdizes, que vos envia meu amo, o Marquês de Carabá!
O rei ficava encantado. Estava cada vez mais curioso para conhecer o Marquês de Carabá, que o presenteava tanto. Os próprios cortesãos perguntavam uns aos outros quem era o tal marquês. E o rei pensava:
— Se é tão bonito quanto é bom caçador, e é tão rico como esplêndido senhor,da minha filha eu lhe darei a mão e o amor!
Um dia o gato soube que o rei ia dar um passeio de carruagem com a filha. Levou o amo até um lago que ficava perto da estrada por onde o rei deveria passar, e, quando a carruagem se aproximava, mandou o dono despir-se e entrar na água.
— Mas, que é isso, gato? Você perdeu o juízo?
— Depressa, meu amo, depressa! Faça o que lhe digo, e não se arrependerá!
O rapaz nao teve outro jeito senão obedecer. Tirou a roupa e pulou para dentro da água. A carruagem do rei já estava perto, e o gato começou a gritar:
— Socorro! Meu amo está se afogando! Socorro, Majestade!
O rei ordenou ao cocheiro que parasse e que seus guardas tirassem o marquês de dentro do rio. O gato agradeceu ao rei e disse:
— O pobre marquês… foi atirado ao rio por dois bandidos… que lhe roubaram…
— A peruca? — perguntou o rei.
— E também as roupas! — disse o gato.
O rei ordenou então a um dos seus servos que corresse ao palácio e trouxesse o traje mais bonito de seu guarda-roupa. O furto da roupa era mais uma invenção do gato. E claro que o Marquês de Carabá não poderia apresentar-se vestido com as roupas pobres de um moleiro…
Quando o servo chegou com o belo traje do rei, o rapaz vestiu-se e aproximou-se da carruagem. Inclinou-se numa reverência e agradeceu ao rei por tê-lo salvo.
A princesa pediu ao pai que convidasse o Marquês de Carabá para entrar na carruagem e continuar o passeio com eles. O rapaz aceitou o convite, e o rei, vendo que a filha se interessava pelo moço, começou a pensar:
— Um marquês desconhecido! Preciso saber quem ele é, e também se é rico.
Enquanto isso o gato correra na frente e já estava longe. Ao encontrar camponeses trabalhando a terra, o gato ordenou em voz grossa:
— Se alguém perguntar de quem são estas terras, digam que pertence ao Marquês de Carabá. Se não responderem assim, eu os picarei em pedacinhos e farei salsicha de vocês!
Daí a pouco chegou a carruagem do rei. Os camponeses o saudaram e ele perguntou de quem eram aquelas terras.
— São do Marquês de Carabál
O rei olhou admirado para o rapaz, que disse modestamente:
—É apenas um campo que quase não dá lucro… não dá nem para comprar os cartuchos para minha espingarda!
O gato, que não perdia tempo, já estava longe, falando com outros
— Se alguém perguntar de quem é o trigo que vocês estão colhendo, digam que é do Marquês de Carabá. Senão, eu os pico em pedacinhos! Logo apareceu a carruagem e o rei perguntou:
— De quem é este trigo?
— É do Marquês de Carabá! — responderam os camponeses.
O rei estava cada vez mais admirado com a riqueza do marquês e não parava de cumprimentá-lo. O gato, entretanto, continuara a correr e chegara a um castelo. Com a maior cara-de-pau deste mundo, bateu à porta.
— Quem é ? — perguntou o guarda.
— Pode dizer-me de quem é este castelo ?
— É de um terrível feiticeiro! — respondeu o guarda. — É melhor você ir andando, porque hoje ele espera hóspedes para um banquete.
O gato insistiu:
— Não posso passar por aqui sem parar para ver seu patrão. Pode anunciar-me: sou o gato do Marquês de Carabá e quero cumprimentá-lo
— Um gato! Que visita estranha! — disse o feiticeiro, que era muito vaidoso. E mandou-o entrar, pensando que o gato viesse prestar-lhe homenagens.
— Aproxime-se! — ordenou o feiticeiro ao gato. — Vejamos se consegue me agradar.
— Que bela barba o senhor tem! — exclamou o gato. — E que barriga tão gorda!
— Bravo, gato! Você sabe fazer elogios. E agora, o que tem para me dizer?
— Ouvi falar que… mas não é possível… não acredito… que o senhor é capaz de se transformar num leão!
— Quem ousou dizer isso? — perguntou o feiticeiro, ofendido.
— Oh! As más línguas… Mas se o senhor me der uma prova de seu poder…
— Claro. Posso me transformar no que quiser — respondeu o feiticeiro. Um… dois… três! O feiticeiro se transformou num enorme leão. O gato teve tanto medo, que até suas botas tremeram. Mas acalmou-se e disse:
— Muito bem, muito bem! Mas deve ser fácil virar leão. O senhor é grande e o leão também é… Não vejo dificuldade nisso !
— Posso virar qualquer coisa, já disse. Até uma coisinha bem pequena!
— Não é possível — retrucou o gato. — Ainda mais porque agora o senhor já deve estar cansado!
— Sou um feiticeiro, e os feiticeiros não se cansam. Pode escolher qualquer bicho,e me transformarei nele.
O gato, que era muito esperto, pediu ao feiticeiro que virasse um ratinho bem pequeno.
— Isso é fácil — disse o feiticeiro.
— Fique olhando: um, dois e três!
O feiticeiro, grande como era, virou um ratinho. O gato não perdeu tempo: num instante pegou o ratinho e comeu. Livre do feiticeiro, o gato percorreu o castelo, dizendo:
— O feiticeiro morreu. O novo dono do castelo é o Marquês de Carabá. Guardas! Servos! Cozinheiros! Preparem-se para receber o Marquês de Carabá e Sua Majestade, o rei, em pessoa!
— O banquete que o feiticeiro ia oferecer aos amigos será servido ao rei — continuou o gato.
— Depressa! A carruagem real se aproxima!
De fato, exatamente naquele momento a carruagem do rei passava pela frente do castelo. O gato correu à estrada e disse:
— Sua Majestade, seja bem-vindo ao castelo do Marquês de Carabál
- Oh! meu caro marquês, não sabia que o senhor possuía também um castelo!
— Para dizer a verdade, nem eu! — respondeu o rapaz.
— Tem um lindo castelo! — disse-lhe o rei — bem construído e belo!
O moço em confusão pensava quieto: — Isso é obra do gato, por certo.
O rei disse no ouvido da princesa: — Que tal o marquês por marido?
— É mais lindo que o nosso — fez a princesa — gosto mais do vosso!
— Aceito com prazer, se ele também quiser!
Disse o marquês na hora:
— Se for por mim a gente casa agora!
— Agora — disse o gato — é hora da ceia, que já está pronta no salão do meio!
Foram todos a ceia festejar: o gato, o rei e mau o novo par.
E assim termina a estória desse gato que foi de fato o mais esperto que houve. Gato de Botas que levou sua estória a tão bom fim. Feliz de quem tiver um gato assim!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Oswald de Andrade

(São Paulo, 11 de janeiro de 1890 — São Paulo, 22 de outubro de 1954)
Tupi or not tupi - This is the question
José Oswald de Sousa Andrade nasceu em São Paulo em 1890. Presenciar a virada do século, aos 10 anos, foi marcante, como relembra o poeta já adulto: "Havíamos dobrado a esquina de um século. Entrávamos em 1900... ". São Paulo despertava para a industrialização e a tecnologia. Abria-se um novo mundo urbano, que Oswald logo assimilaria fascinado: o bonde elétrico, o rádio, o cinema, a propaganda com sua linguagem-síntese...
Oswald tinha 22 anos quando fez a primeira de suas várias viagens à Europa, onde entrou em contato com os movimentos de vanguarda, as quais veio a empregar apenas 10 anos depois. De qualquer forma, divulgou o Futurismo e o Cubismo. O terceiro casamento, com Tarsila do Amaral, em 1926, forjou o casal responsável pelo lançamento da Antropofagia. Mário de Andrade os chamava de "Tarsiwald"... Com Tarsila voltou à Europa algumas vezes.
A crise econômica de 29 abalou as finanças do escritor. Com os problemas somando-se nos mais diversos planos de sua vida, vem a separação de Tarsila, seguida de uma nova relação, com Patrícia Galvão, a Pagu, escritora comunista. Oswald passou a participar de reuniões operárias e ingressou no Partido Comunista. Separado de Pagu, teve ainda outras relações e casamentos.
Nenhum outro escritor do Modernismo ficou mais conhecido pelo espírito irreverente e combativo do que Oswald de Andrade, sendo sua atuação intelectual é considerada fundamental na cultura brasileira do início do século. A obra literária de Oswald apresenta exemplarmente as características do Modernismo da primeira fase:
* Em Pau-Brasil, põe em prática as propostas do manifesto do mesmo nome. Na primeira parte do livro, "História do Brasil", Oswald recupera documentos da nossa literatura de informação, dando-lhe um vigor poético surpreendente.
* Na segunda parte de Pau-Brasil - "Poemas da colonização" -, o escritor revê alguns momentos de nossa época colonial. O que mais chama a atenção nesses poemas é o poder de síntese do autor. No Pau-Brasil há ainda a descrição da paisagem brasileira, de cenas do cotidiano, além de poemas metalinguísticos.
* A poesia de Oswald é precursora do Concretismo, que marcaria a poesia brasileira da década de 60. Suas idéias, recuperadas também na década de 60, reaparecem com roupagem nova no Tropicalismo.
* Em Memórias sentimentais de João Miramar o autor chama a atenção pela linguagem e pela montagem inédita. O romance apresenta uma técnica de composição revolucionária, se comparado aos romances tradicionais: são 163 episódios numerados e intitulados, que constituem capítulos-relâmpago - tudo muito influenciado pela linguagem do cinema. É como um diário que expõe pequenas questões e cenas cotidianas de forma simples e sucinta. Cada episódio narra, com ironia e humor, um fragmento da vida de Miramar. "Recorte, colagem, montagem", conforme Décio Pignatari. O material narrativo segue esta ordem: infância de Miramar, adolescência e viagem à Europa a bordo do navio Marta; regresso ao Brasil, motivado pela morte da mãe; casamento com Célia, e um romance paralelo com a atriz Rocambola; nascimento da filha; divórcio e morte de Célia; falência de Miramar.
Principais Obras:
Poesia: Pau-Brasil (1925); Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade (1927); Cântico dos cânticos para flauta e violão (1945); O escaravelho de ouro (1945).
Romance: Os condenados (trilogia) (1922-34); Memórias sentimentais de João Miramar (l924); Serafim Ponte Grande (1933); Marco Zero - a revolução melancólica (1943).
Teatro: O homem e o cavalo (1934); A mona (1937); O rei da vela (1933).
Além disso, publicou os manifestos: Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924); Manifesto Antropófago (1928). Escreveu ainda artigos e ensaios.
Canto de Regresso à Patria
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os pássaros daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
Brasil
O Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
— Sois cristão?
— Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê Tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
— Sim pela graça de Deus
Canhém Babá Canhém Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval
Erro de português
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
Oswald de Andrade participou ativamente da Semana de Arte Moderna de 1922, evento que teve a função simbólica de construir a identidade cultural brasileira, procurava uma espécie de alma nacional.
Na sua busca por um caráter nacional (ou falta dele, que Mário de Andrade mostra em Macunaíma),Oswald foi muito além do pensamento romântico, diferentemente de outros modernistas. Nos anos vinte Oswald voltou-se contra as formas cultas e convencionais da arte. Fossem elas o romance de ideias, o teatro de tese, o naturalismo, o realismo, o racionalismo e o parnasianismo. Interessaram-lhe, sobretudo, as formas de expressão ditas ingênuas, primitivas, ou um certo abstracionismo geométrico latente, a recuperação de elementos locais, aliados ao progresso da técnica.
Oswald encantou-se ao perceber, em uma de suas viagens à Europa, que a grande literatura tava se transformando a partir de um novo olhar a literaturas ditas menores. Percebeu, então, que o Brasil e toda a sua multiplicidade cultural, desde as variadas culturas indígenas até a cultura negra representavam uma vantagem e que com elas se poderia construir uma identidade e renovar as letras e as artes. Com isso, volta sua arte ao primitivismo e tenta fundir a literatura popular à erudita.
Manifesto da Poesia Pau-Brasil - 1924
O Manifesto da Poesia Pau-Brasil é do mesmo ano que o Manifesto Surrealista de André Breton, o que reforça a tese de que o Brasil acompanhava plenamente o movimento das vanguardas mundiais, deixara de ser um reflexo da literatura portuguesa para manifestar-se autonomamente. Neste momento, Oswald defende uma poesia ingênua no sentido de não contaminada por formas preestabelecidas de pensar e fazer arte. “Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia.”
O manifesto desenvolve-se num tom de paródia, de prosa poética. Defende que o Brasil passe a ser uma cultura de exportação, como foi o pau-brasil, que a sua poesia seja um produto cultural que já não deve nada à cultura europeia, podendo, inclusive, influenciá-la. Oswald defende uma poética espontânea e original, as formas de arte estão dominadas pelo espírito da imitação, o naturalismo era uma cópia balofa. "Só não se inventou a máquina de fazer versos — já havia o poeta parnasiano". Afirma assim uma poesia que tem que ser revolucionária. "A poesia existe nos fatos". “O trabalho contra o detalhe naturalista — pela síntese, contra a morbidez romântica. — pelo equilíbrio geômetra, e pelo acabamento técnico, contra a cópia, pela invenção e pela surpresa”.
Criou-se, então, uma espécie de futurismo tropicalista. “Temos a base dupla e presente — a floresta e a escola. A raça crédula e dualista e a geometria, a álgebra e a química logo depois da mamadeira e do chá de erva doce...”
Sem perder o humor e a ingenuidade, o manifesto propõe a descolonização do país por via de um levante popular, e acima de tudo negro.
Manifesto Antropófago - 1928
O Manifesto Antropófago foi publicado no primeiro exemplar da Revista de Antropofagia. Os exemplares desta publicação eram numerados como primeira dentição, segunda dentição...
Trata-se de uma síntese de alguns pensamentos do autor sobre o Modernismo Brasileiro. Inspirou-se explicitamente em Marx, Freud, André Breton, Montaigne e Rousseau e atacava explicitamente a missionação, a herança portuguesa e o padre Antônio Vieira: "Antes de os portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade"; Contra Goethe, símbolo da cultura clássica européia. Neste sentido, assina o manifesto como tendo sido escrito em Piratininga, nome indígena de local que se tornou São Paulo, datando-o como ano 374, da Deglutição do Bispo Sardinha, o que denota uma recusa radical, simbólica e humorística do calendário gregoriano vigente.
Há no manifesto a ideia da antropofagia, queestá relacionada ao papel simbólico do canibalismo nas sociedades tribais/tradicionais. O canibal nunca come um ser humano por nutrição, mas para absorver as qualidades do inimigo. Assim, o canibalismo é interpretado como uma forma de veneração do inimigo. Se o inimigo tem valor então tem interesse para ser comido porque assim o canibal torna-se mais forte. Oswald atualiza este conceito mostrando que a cultura brasileira é mais forte, embora colonizada pelo europeu o digere, tornando-se, portanto, superior a ele: "Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chamava-se Galli Matias. Comi-o."
Outra ideia avançada é de que a maior das revoluções se realizará no Brasil: "Queremos a revolução Caraíba."
Juntamente com a antropofagia, Oswald recusava, metaforicamente, as regiões que deram origem ao cristianismo. Defendendo as religiões indígenas e a sua relação direta com as forças cósmicas.
O manifesto retoma as ideias de Totem e Tabu, expressas por Freud, em 1912. Segundo Freud, o Pai da tribo teria sido morto e comido pelos filhos e posteriormente divinizado. Tornado Totem e por isso mesmo sagrado, consequentemente criaram-se interdições à sua volta.
"Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem." A antropofagia par Oswald, é uma inversão do mito do bom selvagem de Rousseau, que era puro, inocente, edênico. O índio passa a ser mau e esperto, porque ao canibalizar o estrangeiro, digere-o, torna-o parte da sua carne. O Brasil é, portanto, um país canibal, subvertendo a relação colonizador (ativo)/colonizado (passivo). Ao digerir o colonizador, não é a cultura ocidental, portuguesa, europeia, branca que ocupa o Brasil, mas é o índio que digere tudo o que lhe chega, e ao digerir e absorver as qualidades dos estrangeiros fica melhor, mais forte e torna-se brasileiro.
Nessa perspectiva, o Manifesto Antropófago, embora nacionalista, não é xenófobo, mas é xenofágico: "Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago."
Ainda que incompletas, vale a pena ver os vídeos de Antonio Candido em que fala um pouco sobre literatura, crítica e Oswald de Andrade:

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

As pequeninas guardiãs das chaves!

Olá, amigos...
Chaveiros bonecas de pano
Como estão? Pleno verão, férias escolares e a maioria das pessoas indo para o litoral curtir uma praia e descançar... Pois é, é o que estou fazendo! Mas, quando Dom Quixote se vê em apuros ao seu lado sempre está Sancho Pança, seu fiel escudeiro... então, na impossibilidade de publicar nesses dias, minha fiel escudeira e querida amiga Carlinha, lá do Blog Very Important Pet, ficou com a incumbência de receber meus bloquinhos de notas com os códigos para publicar para vocês!
Enfim, estou na praia de Imbé, litoral norte do Rio Grande do Sul, aqui ficarei até o fim do mês (período de exploração da Carlinha!), mas quando voltar, trarei as malas cheias de novidades e fotinhos para dividir com vocês!
Enquanto isso, mostro aqui esta pequena turminha de bonecas. Essas pequeninas são chaveirinhos, portanto, pequenas mesmo. Fáceis e rápidas de serem confeccionadas, elas ficam uma fofura! Cada uma tem, aproximadamente, 12cm. São feitas com retalhinhos de tecido e o que a criatividade ditar para decorar os cabelinhos e roupinhas. As perninhas e os bracinhos são feitos de cordão!
Chaveiros bonecas de pano
Os cabelos podem ser feitos de diversas cores. Costumo usar linha de crochê para os cabelos.
Chaveiros bonecas de pano
Os vestidinhos são feitos de forma bem simples, com frufru ou pequenas sobras de bordado inglês, tudo dependerá do seu bom gosto em combinar as cores e peças.
Chaveiros bonecas de pano
Os rostinhos são feitos com fuxico em tricoline na cor crua. Os olhos de miçanga ajudam a modelar o rostinho.
Chaveiros bonecas de pano
As argolas de chaveiro são costuradas às cabeças das bonecas, assim o próprio cabelo faz o acabamento.
Chaveiros bonecas de pano
Os nós nas pontas dos cordões moldam as mãozinhas e pezinhos das bonequinhas.
Chaveiros bonecas de pano
Espero que tenham gostado!
Beijinhos!

Arquiteto da Palavra, Engenheiro da Poesia: João Cabral de Melo Neto

João Cabral de Melo Neto
(Recife, 9 de janeiro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de outubro de 1999)

Atuou por mais de quarenta anos na carreira diplomática, na qual ingressou aos 25 anos. Trabalhou em diversos países, o que lhe permitiu entrar em contato com diferentes culturas. A cultura espanhola, a qual conheceu a fundo quando viveu em Barcelona e Sevilha, marcou bastante sua poesia. Passou a ocupar cadeira da Academia Brasileira de Letras em 1968.
João Cabral inaugurou, em nossa literatura, um novo modo de fazer poético. A essência de sua poesia está em procurar desvendar os elementos concretos da realidade, que se apresentam como um desafio para a inteligência do poeta. Guiado pela lógica e pelo raciocínio, seus poemas fogem à concepção de uma poesia sentimentalista e de exposição do eu. Seus textos voltam-se para o universo dos objetos, das paisagens, dos fatos sociais, sendo, muitas vezes, metalinguística. O prazer estético provocado pela leitura de João Cabral, portanto, está relacionado à leitura analítica e não ao envolvimento emocional com o texto.
A obra de João Cabral, então, é vista como uma "ruptura com o lirismo" e seu fazer poético como "antilírico". Apesar disso, sua literatura não é de um descritivismo parnasiano, suas descrições, por muitas vezes, adquirem um valor simbólico,por outras, denunciam e criticam a sociedade.
Pedra do sono, primeiro livro do autor, tem elementos surrealistas. Neste livro, o poeta pretendeu "compor um buquê de imagens em cada poema,- as imagens revelam matéria surrealista no sentido de oníricas, subconscientes...". O sono e o sonho aparecem frequentemente nessa obra.
O engenheiro, apesar de ainda apresentar alguns poemas de caráter surrealista, já apresenta os alicerces de sua nova concepção poética, do poema como esforço do raciocínio frente a realidade concreta. Em Psicologia da composição, amadurece a concepção poética que começava a se delinear na obra anterior.
Os livros seguintes - O cão sem plumas, O rio e Morte e vida severina - traz poemas voltados à realidade social, com análise geográfica, humana e social do Nordeste. Morte e vida severina, sua obra mais conhecida, é um poema narrativo subintitulado auto de Natal pernambucano, que trata da caminhada de um retirante - Severino - do sertão até a zona litorânea, em busca de condições para sobreviver à seca. A semelhança com um auto natalino ocorre no final, quando, ao presenciar o nascimento de uma criança, o retirante renuncia à intenção de matar-se.
Suas obras principais são:
Pedra do sono (1942);
O engenheiro (1945);
Psicologia da composição (1947);
O cão sem plumas (1950);
Morte e vida severina (1956);
Paisagem com figuras (1956),
Uma faca só lâmina (1956);
A educação pela pedra (1966);
Museu de tudo (1975);
Auto do frade (1984);
Agrestes (1985);
Crime na Calle Relator (1987).

O luto no Sertão

Pelo sertão não se tem como
não se viver sempre enlutado;
lá o luto não é de vestir,
é de nascer com, luto nato.

Sobe de dentro, tinge a pele
de um fosco fulo: é quase raça;
luto levado toda a vida
e que a vida empoeira e desgasta.

E mesmo o urubu que ali exerce,
negro tão puro noutras praças,
quando no sertão usa a batina
negra-fouveiro, pardavasca.



Catar Feijão
Catar feijão se limita com escrever:
Jogam-se os grãos na água do alguidar
E as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
pois catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

Ora, nesse catar feijão entra um, risco
o de que entre os grão pesados entre
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,

açula a atenção, isca-a com risco.



"...E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."
(Morte e Vida Severina)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Elvis Presley... eterno!

Elvis Presley
(08 de janeiro de 1935 - 16 de agosto de 1977)

Elvis Aaron Presley nasceu nas mais humildes circunstâncias, em uma casinha simples no Mississippi. O seu irmão gêmeo, Jessie Garon, nasceu morto, o que fez com que Elvis crescesse como filho único. Ele e os seus pais mudaram-se para Memphis, no Tennessee, em 1948.
Suas influências musicais foram da música popular à gospel. Incorporou muito a música e cultura negra. Em 1954, iniciou a sua carreira como cantor com a lendária etiqueta da Sun Records, em Memphis. Em 1956 já era uma sensação mundial. Com um som e estilo que combinava de forma única as suas diversas influências, misturou e desafiou as barreiras sociais e raciais da época, iniciando uma nova era na música e cultura popular americanas.
Elvis estrelou 33 filmes de sucesso, fez história com as suas apresentações e especiais de televisão. Foi aclamado em várias atuações ao vivo, muitas vezes quebrando todos os recordes. Elvis vendeu mais de um bilhão de discos.
O seu talento, beleza, sensualidade, carisma e bom humor conquistaram milhões, bem como a humildade e bondade humana que demonstrou ao longo da sua vida. Conhecido no mundo inteiro por seu primeiro nome, é considerada uma das figuras mais importantes da cultura popular do século vinte.
Elvis morreu bastante jovem ainda, aos 42 anos, em sua casa, em Memphis. Apesar de uma vida conturbada por escândalos por envolvimento com drogas, Elvis nunca perdeu o carisma. Embora partindo bastante cedo, ele nos legou verdadeiras pérolas, capazes de encantar os ouvidos mais sensíveis...







Eterna inspiração...


domingo, 8 de janeiro de 2012

Agora Inês é morta, mas a lenda é eterna...

Inês de Castro
(1320 ou 1325 - 7 de Janeiro de 1355)

Inês de Castro era uma mulher simples, de origem humilde e ilegítima. Castelhana, chegou a Portugal em 1340, tornando-se aia na casa de um nobre português. Logo se apresenta uma paixão fulminante entre Inês e Pedro, príncipe herdeiro de Portugal. Embora casado, por questões políticas, com Constança Manuel, nobre da Casa Real Castelhana. Pedro e Inês viveram esse amor. Sendo o romance vivido explicitamente, o rei Afonso IV, que havia promulgado leis contra adultério, manda exilar Inês no castelo de Albuquerque, na fronteira espanhola, em 1344. A distância, porém, não apaga o amor entre eles e, segundo a lenda, continuavam a se corresponder com frequência. Em Outubro de 1345, Constança morre ao dar à luz o futuro Fernando I de Portugal. Pedro, viúvo, está livre para viver seu amor. Inês, então, retornou do exílio e os dois foram viver juntos longe da corte, tendo tido quatro filhos.
Afonso IV, por diversas vezes, tentou preparar um novo casamento para o filho, com uma mulher de sangue nobre. Pedro, porém, recusa-se a casar com outra que não Inês. Pela situação de insegurança política relativa a sucessão, Afonso IV preocupa-se em buscar um casamento conveniente para Pedro. Com as constantes recusas do filho, o rei Afonso IV decidiu então que a melhor solução seria eliminar Inês. Após viver algum tempo no norte, Pedro e Inês regressam a Coimbra. A 7 de Janeiro de 1355, aproveitando-se da ausência do filho, que se encontrava em uma escursão de caça, o rei envia Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco para executar Inês, que fora degolada no Mosteiro de Santa Clara em Coimbra.
Inês não se salvou, mas conseguiu ver seus filhos livres da morte que se lhes apresentava. Com as seguintes palavras, ela comovera Afonso IV, que poupara a vida dos netos:
"Até mesmo as feras, cruéis de nascença, e as aves de rapina já demonstraram piedade com as crianças pequenas. O senhor, que tem o rosto e o coração humanos, deveria ao menos compadecer-se destas criancinhas, seus netos, já que não se comove com a morte de uma mulher fraca e sem força, condenada somente por ter entregue o coração a quem soube conquistá-lo. E se o senhor sabe espalhar a morte com fogo e ferro, vencendo a resistência dos mouros, deve saber também dar a vida, com clemência, a quem nenhum crime cometeu para perdê-la. Mas se devo ser punida, mesmo inocente, mande-me para o exílio perpétuo e mísero na gelada Cítia ou na ardente Líbia onde eu viva eternamente em lágrimas. Ponha-me entre os leões e tigres, onde só exista crueldade. E verei se neles posso achar a piedade que não achei entre corações humanos. E lá, com o amor e o pensamento naquele por quem fui condenada a morrer, criarei os seus filhos, que o senhor acaba de ver, e que serão o consolo de sua triste mãe."
Tal fato causou a revolta de Pedro, responsabilizando o pai pela morte de Inês e provocando uma sangrenta Guerra Civil. A paz foi selada em agosto de 1355, através da intervenção da Rainha Beatriz.
Em 1357, Pedro I tornou-se o oitavo rei de Portugal. Em junho de 1360, ele faz a Declaração da Cantanhede, a partir da qual torna legítimos seus filhos com Inês, afirmando que havia se casado com ela secretamente, em 1354. A única prova de tal união foi a palavra do Rei e o testemunho do capelão.
Por ordens de Pedro I, foram construídos dois túmulos no mosteiro de Alcobaça, um para si e outro para onde levou os restos mortais de Inês com pompas de rainha. Dizem as lendas portuguesas que, ao assumir o trono, Pedro mandara desenterrar Inês, vesti-la com trajes de núpcias, colocou-a ao seu lado, fazendo que todos reverenciassem sua rainha e beijassem-lhe a mão.
Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves foram capturados e executados. Diz a lenda que o Rei mandou arrancar o coração de ambos, de um pelo peito, do outro pelas costas. O terceiro executor, Diogo Lopes Pacheco fugira para França, sendo perdoado pelo Rei no seu leito de morte. Pedro I morreu em 1367, sendo sepultado de frente para a seupultura de Inês, para que, segundo a lenda, possam continuar olhando-se nos olhos.
Essa história do amor trágico entre Pedro I e Inês de Castro ficou celebrizada no Canto III de Os Lusíadas.
A história de Inês de Castro constitui um episódio lírico-amoroso que simboliza a força e a veemência do amor em Portugal. O episódio relata o assassinato de Inês pelos ministros do rei D. Afonso IV. A maior parte do episódio é narrado por Vasco da Gama, que relata a história de Portugal ao rei de Melinde. O episódio mescla elementos líricos e históricos, sendo visto como um dos mais belos momentos do poema. Em Os Lusíadas, o relato de Camões se dá da seguinte forma:
Episódio de Dona Inês de Castro
(Os Lusíadas, Canto III, 118 a 135)

Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi Rainha.

Tu, só tu, puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.

Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.

Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fernosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam;
E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.

De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas,
Quando um gesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,

Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co sangue só da morte ladina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra hûa fraca dama delicada?

Traziam-na os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade;
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,

Pera o céu cristalino alevantando,
Com lágrimas, os olhos piedosos
(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Um dos duros ministros rigorosos);
E despois, nos mininos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfindade como mãe temia,
Pera o avô cruel assi dizia:

(Se já nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento,
E nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas tem o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piedoso sentimento
Como co a mãe de Nino já mostraram,
E cos irmãos que Roma edificaram:

ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar hûa donzela,
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.

E se, vencendo a Maura resistência,
A morte sabes dar com fogo e ferro,
Sabe também dar vida, com clemência,
A quem peja perdê-la não fez erro.
Mas, se to assi merece esta inocência,
Põe-me em perpétuo e mísero desterro,
Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente,
Onde em lágrimas viva eternamente.

Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
Ali, co amor intrínseco e vontade
Naquele por quem mouro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.)

Queria perdoar-lhe o Rei benino,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra hûa dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais e cavaleiros?

Qual contra a linda moça Polycena,
Consolação extrema da mãe velha,
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co ferro o duro Pirro se aparelha;
Mas ela, os olhos, com que o ar serena
(Bem como paciente e mansa ovelha),
Na mísera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrifício se oferece:

Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que despois a fez Rainha,
As espadas banhando e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, fervidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.

Bem puderas, ó Sol, da vista destes,
Teus raios apartar aquele dia,
Como da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia !
Vós, ó côncavos vales, que pudestes
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetistes.

Assi como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo das mãos lacivas maltratada
Da minina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está, morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas e perdida
A branca e viva cor, co a doce vida.

As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores.

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